Foto feita por Milla Santo - Nov/2019 |
Diário de viagens: blog que apresenta os resultados de visitas técnicas orientadas pela Prof.ª Ana Audebert na disciplina "Museu no Mundo Contemporâneo" (DEMUL/UFOP)
a tradição das visitas técnicas
No inverno de julho de 1945, quando as moças e senhoras costumavam usar chapéus em roupas de passeio e os homens trajavam ternos à rua, a turma do Curso de Museus do Museu Histórico Nacional/RJ excursionava para a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais. O grupo de 19 pessoas veio de trem numa viagem que durou 16 horas. Durante a permanência de uma semana visitaram também as cidades de Mariana, Congonhas do Campo e o então arraial de Ouro Branco.
Passados 68 anos, o Curso de Museologia da UFOP mantém a tradição das visitas técnicas iniciada pelo Curso de Museus. Todo semestre o DEMUL se reúne para discutir e aprovar os roteiros de viagens das disciplinas que possuem visitas previstas em suas ementas. Em geral, os estudantes organizam a hospedagem, na busca de conforto, higiene, bom preço e localização. Os professores, claro, responsabilizam-se pela elaboração dos roteiros detalhados, agendamentos, relatórios posteriores, avaliações e ainda por todo o aspecto operacional de deslocamento.
Em meio à transitoriedade do mundo contemporâneo as visitas técnicas permanecem uma boa tradição que nos orgulhamos em manter devido à sua importância como recurso pedagógico.
Este blog cumpre, pois o objetivo final de avaliar os estudantes em suas visitas aos museus. Suas postagens são registros, narrativas e leituras da experiência vivida, um diário coletivo, dinâmico, crítico, quiçá, divertido.
Tenham todos uma boa leitura e uma boa viagem!
Prof.ª Ana Audebert
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
As Mulheres no Museu da Loucura
Museu da Loucura: apaguem as diferenças, escondam os indesejáveis
Entrada da Sala de Lobotomia |
Interior da Sala de Lobotomia e instrumental cirúrgico. |
Brinquedos feitos por internos. |
Poesias. |
quinta-feira, 28 de novembro de 2019
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
Holocausto Brasileiro - A história por traz da "loucura"
A crônica de um dia de torpor
O dia chegou, foi uma manhã virada, tinha virado a madrugada, junto a insônia que insiste em aparecer, mas eu estava ansiosa, como sempre, defino como meu estado crônico, pois eu queria ver, queria sentir aquele lugar que viveu tanta coisa e agora era museu, oque mais uma estudante de museologia queria!? A ida foi ótima, um amigo querido me deu um Dramin, então a fadiga que me importunava passou, nunca fui uma admiradora de visitas técnicas, é muita correria, muita gente junto, minha alma é mais solitária e para poucos, mas essa valia a pena, quando chegamos comecei a sentir uma energia densa, acredito muito nisso, na energia das coisas, lugares, pessoas e tudo que esse infinito universo proporciona, comecei a sentir um pouco de falta de ar, acabei esquecendo de mencionar que sou bem sensitiva, meu pai de santo e os curadores do Intituto de Pranaterapia afirmavam, tanto que naquela manhã tampei meu umbigo, para não absorver energias que iriam me sugar, mas eu estava curiosa, queria entrar, queria ver, sentir, não queria que fosse uma experiência técnica, ficar observando a iluminação, as vitrines, se era acessível, eu queria ser sensor, sentir o que aquela instituição queria mostrar.
Comecei minha experiência um pouco frustrada, na minha cabeça se passava - poxa, mais eles podiam explorar mais o sensorial, eles tinham tanto material e o recorte museológico dá tantas margens pra isso, algumas coisas impactavam muito, o próprio acervo, aparelhos de lobotomia e suas variações, me faziam pensar como uma pessoa recebia a notícia que sofreria aquele procedimento, no outro canto do mesmo módulo uma plotagem com alguns rostos, tentei entender o que eles estavam expressando, mas eu sabia que nunca entenderia, o módulo do trem de Barbacena estava mais denso, tive uma sensação mais forte mesmo sendo um módulo onde não abrange a obscuridade daquela história, um colega contou sobre sentir isso também na mesma sala, quando estava me preparando para subir no segundo pavimento, me deparei com um ser humano enjaulado, era tão perturbador que comecei a subir mais rápido, pra ver melhor que instalação era aquela, mas eu não conseguia absorver, era triste, a pessoa que ali estava eternizada, estava tão destroçada que não reconhecia se era mulher ou homem, se ela estava chorando ou estava desesperada ou os dois provavelmente, minha decepção estava começando a diminuir, eu queria sensores pra ter a experiência que tive com aquele ser humano enjaulado, mas os módulos seguiram o mesmo padrão, a última sala que entrei tinham 4 totens com áudios dispersos de relatos, gemidos, canções cantadas, mas eu já havia as escutado nos documentários assistidos, pensei que eles sem um fone para cada atrapalhou, pq os sons eram soltos, mas depois compreendi, devia ser esse o barulho de lá, uns gemendo de dor, de tristeza ou tantos outros sentimentos que temos, uns tentando manter a sanidade cantando ou conversando, era esse o som, porém claro que com menos intensidade, fiquei imaginando esses sons 4 vezes mais altos, acho que esse pode ter sido a realidade, nessa hora eu precisava de um ar, precisava sair dali, me sentei junto a alguns colegas que relataram que sentiam que ali já viveu muito sofrimento, de repente, de forma muito carinhosa um cachorrinho se aproximou, com muita doçura começou a tentar me abraçar e eu fui no jogo dele, quis retribuir o amor, imaginei será que ele vive lá? animais são seres iluminados, será que ele vivia ali com uma missão de aliviar a densa energia, mas uma coisa não saia da minha cabeça, porque holocausto estava tão no escuro daquela comunicação museal, estava um pouco velado essa questão, particularmente isso seria o auge do fechamento pra esse museu, essa história precisa tanto ser divulgada, eu não conhecia, também vindo do sudeste do Mato Grosso, lá as pessoas não costumam questionar, esse é um dos motivos que não gosto da minha região.
Depois de receber e dar muito carinho, fomos chamados para uma breve fala, no auditório, onde um funcionário falava do espaço museal, minha cabeça sempre questionando - será que ele não vai falar do holocausto?!, fomos embora, eu ainda com o torpor de um sono regado ao movimento do ônibus, voltei dormindo, eu precisava repor minhas energias e com uma leve decepção, aquela exposição não representou a dor, as terríveis lembranças que aquelas pessoas tinham, foi tudo velado mas sentido ao mesmo tempo, mas deve haver um motivo, eu só não sei, foi apenas um pensamento de uma museologa em formação, onde o mundo é ideal e a vida não é real.
terça-feira, 26 de novembro de 2019
A diferença entre um poeta e um louco é que o poeta
sabe que é louco... Porque a poesia é uma loucura lúcida.
A fé instintiva é escravidão.
A fé mecânica é loucura.
A esperança consciente é força.
A esperança emocional é covardia.
A esperança mecânica é doença.
O amor consciente desperta o amor.
O amor emocional desperta o inesperado.
O amor mecânico desperta o ódio.
Em 1903, Barbacena, MG, ganhou a alcunha de “Cidade dos Loucos”, graças à inauguração de sete instituições psiquiátricas no município. Na época, estâncias de clima ameno, como Barbacena, eram vistas como propícias para o tratamento de doenças mentais. Uma dessas iniciativas era o Hospital Colônia. Mas, com o tempo, o que era planejado como uma instituição médica tornou-se um matadouro
Os pacientes eram separados por sexo, idade e características físicas. Como o Colônia não tratava apenas pessoas da cidade, muitas vinham de fora, desembarcando de trem. Em 1933, o escritor Guimarães Rosa, que trabalhou brevemente como médico no Colônia, chamou aquilo de “trem de doido”. Anos depois, o cenário rendeu comparações inevitáveis com os campos de concentração nazistas, já que eles também eram abastecidos com trens
Torturas físicas e psicológicas eram rotina no Colônia. Entre as mais comuns havia a ducha escocesa (banho propiciado por máquinas de alta pressão) e tratamentos de choque, ambos aplicados a quem não se comportasse bem. Estupros também foram relatados durante as décadas de funcionamento do hospital
Em geral, hospitais psiquiátricos usavam métodos como tratamento de choque nos pacientes – não era uma exclusividade do Colônia. A situação começou a mudar com uma revolução no sistema de saúde mental proposta pelo psiquiatra italiano Franco Basaglia, na década de 1960, e com o Movimento Antimanicomial, criado no Brasil em 1987, que queria que as instituições tivessem um perfil de tratamento e de reabilitação, não de prisão
O hospital poderia receber até 200 pessoas, mas chegou a ter 5 mil. Para comportar tanta gente e abrir espaço, o Colônia trocou camas por capim. A desumanização se espalhava pelos 16 pavilhões, onde faltavam água encanada e alimentos. Muitos internos bebiam e se banhavam no esgoto a céu aberto. Com uma sucessão de maus-tratos, frio e fome, muitos não resistiam
Percebendo que o cemitério municipal já não comportava o número cada vez mais alto de mortos no Colônia, funcionários do hospital começaram a traficar corpos para faculdades de medicina, que os usavam em aulas de anatomia. Se a procura era baixa, os mortos eram dissolvidos em ácido
Condições precárias, torturas, superlotação, abandono e crueldade resultaram em uma catástrofe anunciada. Estima-se que 60 mil vidas foram perdidas no Colônia até o fim dos métodos desumanos nos anos 80. Em 1996, um dos pavilhões foi transformado em museu para manter viva essa lamentável memória da história brasileira. Hoje, restam menos de 200 sobreviventes da tragédia.
FONTE Documentário Holocausto Brasileiro (HBO e Vagalume Filmes)
Soneto: Sobre o Hospital Colônia de Barbacena
Normalizado é o caos que se instala
Rejeitar é um poder dos que lhes falam
E o sofrer é daquele que se cala
O poder vendendo um ser pra por migalha
O descaso dói na alma
E o desprezo é crescente e nunca falha
Há cansaço nas pernas e nos braços
Não teve amor para quem ali suplicou
O semblante é marcado por traços
Que contam histórias para quem ficou
Azulão vestindo dor
Conceituado foi o Doutor
Misericórdia, meu Senhor!
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
domingo, 24 de novembro de 2019
Diário de Viagem
Uma "estética do horror" no Museu da Loucura
Figura 1 - Cartaz publicitário do filme "Freaks" (1932) |
Figura 2 - Plotagem em meio à instalação na exposição de longa duração do Museu da Loucura |
Figura 3 - Cena do filme "Freaks" (1932), de Tod Browning |
Figura 4 - Escada em espiral no Museu da Loucura |
Figura 5 - A última cela a ser desativada no Hospital Colônia e plotagem de fotografia de paciente encarcerada e nua. |