A visita ao Museu Imperial, associada à leitura do artigo “A pós-modernização da cultura: património e museus na contemporaneidade”, de Marta Anico, permite compreender como os museus são espaços atravessados por disputas simbólicas, políticas e éticas, especialmente no que diz respeito à construção das narrativas históricas e à representação do passado no presente.
Marta Anico argumenta que o patrimônio não deve ser entendido como algo fixo ou neutro, mas como uma construção social permanentemente atualizada. Para a autora, “o património é um modo de produção cultural no presente que tem como recurso o passado” (ANICO, 2005, p. 76). Essa afirmação é central para pensar o Museu Imperial, instituição historicamente associada à valorização da memória da família imperial, mas que hoje se vê desafiada a revisar seus discursos à luz das demandas contemporâneas por inclusão, diversidade e justiça social.
Nesse sentido, o Museu Imperial busca alinhar-se às discussões contemporâneas da Museologia, especialmente no que se refere às dimensões éticas, à responsabilidade social e à revisão crítica de narrativas historicamente hegemônicas. Em sua exposição de longa duração possui a escultura “Mima”, sendo uma estátua de 1m 90 cm em mármore de Carrara criada no século XIX por Arthur de Gobineau, diplomata francês e amigo de Dom Pedro II, mas também conhecido como o “pai do racismo científico” por suas teorias de supremacia ariana.
Imagem 1: Escultura “Mima”
O Museu Imperial decidiu manter coberta a escultura “Mima”, localizada na Sala dos Diplomatas, como parte de uma ação voltada à reflexão institucional sobre as formas mais adequadas de apresentação desse objeto controverso ao público. Nesse contexto, foi elaborada a Nota Técnica sobre a escultura, de autoria de Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, pesquisadora do Museu Imperial/Ibram/MinC, na qual se propõe a retirada da obra ou, alternativamente, sua exposição acompanhada de contextualização e problematização crítica.
O documento reconhece que os objetos museológicos devem ser interpretados de forma reflexiva, uma vez que “objetos também são documentos e, por isso, precisam ser ‘lidos a contrapelo’, em suma, problematizados” (FRAGUAS, 2024 p. 3), assumindo que seus significados não são intrínsecos ou neutros, mas construídos a partir das condições sociais, políticas e culturais do presente, em consonância com a perspectiva de Marta Anico acerca do patrimônio como uma produção cultural continuamente atualizada.
Imagem 2: Escultura Coberta
Fonte: Google Imagens
Referência
ANICO, Marta. A pós-modernização da cultura: património e museus na contemporaneidade. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 11, n. 23, p. 71–86, jan./jun. 2005. Disponível: MUL106 - artigo Marta Anico.pdf. Acesso em: 19 dez. 2025.
FRAGUAS, Alessandra Bettencourt Figueiredo. Nota técnica: justificativa para a retirada da escultura “Mima”, de autoria de Joseph Arthur de Gobineau, da exposição de longa duração do Museu Imperial. Petrópolis, 2024. Manuscrito institucional. Museu Imperial/Ibram/MinC. Disponível em: Nota Técnica_Mima (1).pdf. Acesso em: 19 dez. 2025.


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