a tradição das visitas técnicas

No inverno de julho de 1945, quando as moças e senhoras costumavam usar chapéus em roupas de passeio e os homens trajavam ternos à rua, a turma do Curso de Museus do Museu Histórico Nacional/RJ excursionava para a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais. O grupo de 19 pessoas veio de trem numa viagem que durou 16 horas. Durante a permanência de uma semana visitaram também as cidades de Mariana, Congonhas do Campo e o então arraial de Ouro Branco.

Passados 68 anos, o Curso de Museologia da UFOP mantém a tradição das visitas técnicas iniciada pelo Curso de Museus. Todo semestre o DEMUL se reúne para discutir e aprovar os roteiros de viagens das disciplinas que possuem visitas previstas em suas ementas. Em geral, os estudantes organizam a hospedagem, na busca de conforto, higiene, bom preço e localização. Os professores, claro, responsabilizam-se pela elaboração dos roteiros detalhados, agendamentos, relatórios posteriores, avaliações e ainda por todo o aspecto operacional de deslocamento.

Em meio à transitoriedade do mundo contemporâneo as visitas técnicas permanecem uma boa tradição que nos orgulhamos em manter devido à sua importância como recurso pedagógico.

Este blog cumpre, pois o objetivo final de avaliar os estudantes em suas visitas aos museus. Suas postagens são registros, narrativas e leituras da experiência vivida, um diário coletivo, dinâmico, crítico, quiçá, divertido.

Tenham todos uma boa leitura e uma boa viagem!

Prof.ª Ana Audebert


terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Visita Virtual ao Memorial da Resistência de São Paulo

 Memorial da Resistência de São Paulo

 Aberto ao público em 2009, o museu é um lugar de memória dedicado a preservar a história do prédio onde operou entre 1940 e 1983 o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops/SP), uma das polícias políticas mais truculentas da história do país.


 Por meio de exposições temáticas de grande impacto social, ações educativas, atividades para pessoas com deficiência e programações culturais gratuitas, o museu se consolidou como referência em Educação em Direitos Humanos, promovendo o pensamento crítico e desenvolvendo atividades sobre Direitos Humanos, Repressão, Resistência e Patrimônio.

 

 O Memorial da Resistência, ao abordar períodos de repressão política no Brasil, assume uma função social e política essencial na contemporaneidade.

 Ele oferece um espaço para reflexão crítica sobre os direitos humanos, democracia e resistência, conectando o passado ao presente.

 Museus contemporâneos estão cada vez mais adotando abordagens multissensoriais para envolver os visitantes. O Memorial pode explorar técnicas narrativas inovadoras, como a utilização de música, arte visual e elementos táteis, para transmitir de maneira mais impactante as histórias de resistência.                                        

 O Memorial da Resistência pode adotar uma abordagem de "memória viva", incentivando relatos orais e contribuições da comunidade. Essa prática mantém a relevância do museu ao incorporar narrativas em constante evolução e dando espaço para vozes menos ouvidas.

 O museu desempenha um papel educativo, buscando conscientizar o público sobre eventos históricos relevantes e as lutas por direitos e liberdades. Sua exposição e programação educativa contribuem para a formação crítica do visitante.


 Além da exposição, o museu desempenha um papel crucial na preservação de artefatos e documentos históricos relacionados à resistência. Esses itens são cuidadosamente catalogados, conservados e disponibilizados para pesquisa, contribuindo para a preservação da memória histórica.

 O Museu da Resistência de São Paulo mantém uma relação significativa com a contemporaneidade ao abordar temas históricos relevantes para os desafios sociais atuais. Sua expografia, foco na preservação da memória, engajamento com a comunidade e ênfase nos direitos humanos contribuem para uma compreensão dinâmica da resistência política e social. Além disso, o museu promove diálogo, reflexão sobre a justiça social e se adapta às mudanças sociais, mantendo-se como um espaço ativo de aprendizado e consciência nas questões contemporâneas.

                         

 O Museu da Resistência pode ampliar seu escopo para reconhecer e documentar lutas contemporâneas por direitos e justiça social. Isso permite que o museu mantenha sua relevância ao refletir e responder aos desafios atuais enfrentados pela sociedade.

 O museu pode e deve estabelecer parcerias estratégicas com instituições de pesquisa e universidades para promover a pesquisa acadêmica sobre resistência política. Isso não apenas enriquece a compreensão do público, mas também contribui para a produção de conhecimento acadêmico relevante.

 No contexto atual, o Museu da Resistência e o conteúdo didático no geral passado no semestre letivo 23/2 do curso de Museologia da UFOP, especificamente na matéria curricular "Museus no mundo contemporâneo" se projeta não apenas como um guardião da memória, mas como um espaço dinâmico que responde aos desafios do presente e antecipa as necessidades do futuro. Sua visão inclui a adaptação constante, o envolvimento ativo da comunidade e a promoção de diálogos construtivos sobre direitos humanos e resistência política.

 Assim, o Museu da Resistência de São Paulo ou museus em suas formas contemporâneas representam não apenas um repositório de história, mas um agente ativo na construção do entendimento coletivo, destacando a importância da resistência em contextos autoritários e contribuindo para a formação de uma sociedade mais consciente e comprometida na evolução dos saberes e valoração de sua cultura.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Museu Afro Brasil - A preservação da Herança Afro-Brasileira

    O Museu Afro Brasil, sob a direção de Emanuel Araújo, de fato desempenha um papel crucial na preservação e na promoção da cultura afro-brasileira, além de destacar a contribuição dos africanos e afrodescendentes para a construção da sociedade brasileira. O acervo diversificado, que inclui pinturas, esculturas, vestimentas, documentos e outros artefatos, oferece aos visitantes uma oportunidade única de mergulhar na rica história e nas influências culturais africanas no Brasil. 

    Através das diversas exposições e artefatos apresentados, o Museu Afro Brasil permite que os visitantes compreendam não apenas a diversidade cultural e a herança artística do continente africano, mas também a influência significativa dessas culturas na formação da identidade brasileira. Além disso, ao destacar os saberes e tecnologias trazidos pelos africanos escravizados, o museu lança luz sobre a contribuição desses grupos para o desenvolvimento econômico e cultural do Brasil. 

    É notável como o museu oferece uma oportunidade para que as pessoas se reconectem com suas raízes, entendam melhor suas próprias identidades e reconheçam a importância da preservação e celebração da diversidade cultural. Ao refletir sobre as tentativas de apagamento da cultura africana e afrodescendente na história do Brasil, o Museu Afro Brasil convida os visitantes a reconsiderarem suas próprias identidades e a reconhecerem a herança compartilhada que todos nós carregamos. 

    Por meio de sua abordagem educativa e provocativa, o Museu Afro Brasil inspira reflexão, diálogo e apreciação pela diversidade cultural, contribuindo assim para uma sociedade mais inclusiva e respeitosa com suas diferentes origens e tradições.


  Alguns registros que fiz durante a visita ao Museu Afro Brasil:





terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

 "Museu AfroBrasil - um resgate ancestral afro brasileiro"

Cravado bem ali no Parque do Ibirapuera, em um dos parques mais famosos de São Paulo, apresento a vocês o Museu AfroBrasil, que está sediado no pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, e com um vasto acervo de mais de 8 mil obras compreendidas entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas com autoria de brasileiros e estrangeiros.

Reflito que ainda toda a humanidade terrestre tem-se uma grande dívida para com o passado, presente e o futuro de toda a cultura, legado africano e afro descendente ao redor do mundo.

Instituições museológicas como essa, vem a retratar, resgatar, registrar, preservar e argumentar a partir do olhar e da experiência do negro sobre a formação da identidade e pertencimento histórico social enquanto sociedade brasileira. 

Para que se faça jus a toda essa história de luta, resistência, multiculturalidade e salvaguarda de todo esse legado histórico, temos que estar imersivo de corpo e alma dentro do museu para contemplarmos  e vivenciarmos um pouquinho destes heróis e heroínas na luta contra a escravidão e na tentativa de vislumbrar por dias melhores nos seus caminhos...







 Uma viagem virtual à mente humana. MASP Google Art's and Culture


    Na exposição, Histórias da Loucura: Desenhos do Juquery, está presente as obras feitas por pacientes do famoso Hospital Psiquiátrico, Juquery, de 1898. 

    Com um conjunto de 102 obras doadas ao Museu, tem como intuito mostrar que a arteterapia não é só apenas um exercício para serem feitos nos consultórios ou nas terapias em grupo, mas algo sim para ser levado como arte e ao público em massa. 

    Em parceria com o Google Art’s and Culture, o acesso a estas obras e a espaços como o Museu de Arte de São Paulo, se torna fácil e presente para todos aqueles que demonstrem interesse ou curiosidade pelas artes e suas vertentes enraizadas na cultura brasileira, em sua grande pluralidade. 

    As exposições, inicialmente feitas por um dos médicos do Hospital, Osório César, faz parte da história do museu desde seus primórdios, tendo sua estreia na instituição apenas um ano depois de sua inauguração. 

    Os desenhos são simples e com materiais do cotidiano, pequenos e sem muitos detalhes, mas a clareza na representação dos mesmo.



    A visita é intuitiva e conta com algumas informações das doações e as principais obras do acervo.

    É possível também, ao clicar no botão de informações da obra no canto esquerdo da tela, criar cartões postais com poemas, que podem ser enviados via sua conta google.






Jardim de Esculturas do Museu de Arte Moderna (MAM) no Parque Ibirapuera

O Jardim de Esculturas do Museu de Arte Moderna (MAM) no Parque Ibirapuera oferece aos visitantes uma experiência artística única em meio à natureza exuberante de São Paulo. Espalhadas pelo parque, as esculturas criam um diálogo cativante com o ambiente ao redor, convidando os espectadores a explorarem as diferentes formas, texturas e conceitos artísticos.

Desde obras abstratas até representações figurativas, a exposição apresenta uma ampla variedade de estilos e materiais, refletindo a diversidade e a criatividade da cena artística contemporânea. Algumas esculturas se destacam pela sua imponência e grandiosidade, enquanto outras surpreendem pela delicadeza e detalhamento.


Ao caminhar pelos gramados do Parque Ibirapuera, somos envolvidos por uma atmosfera de contemplação e descoberta. Além das esculturas estáticas, a exposição também inclui instalações interativas que convidam os espectadores a participarem ativamente da experiência artística. Essas obras dinâmicas e envolventes estimulam os sentidos e convidam à exploração criativa, criando uma experiência ainda mais imersiva e marcante para o público.


A Exposição de Esculturas do MAM no Parque Ibirapuera é mais do que uma simples mostra de arte ao ar livre, é um espaço de encontro, inspiração e reflexão para os visitantes. Ao unir a beleza natural do parque com a expressão artística das esculturas, a exposição proporciona uma experiência enriquecedora que celebra a conexão entre arte, natureza e humanidade.



Para além do Terror no Cinema! - Uma exposição do Museu da Imagem e do Som (MIS)

 A parte da visita que mais me marcou em São Paulo foi ao Museu da Imagem e do Som (MIS) onde visitamos a exposição imersiva "Terror no Cinema" que trouxe temáticas desde o terror clássico de diversas épocas como "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920), "Nosferatu" (1925), "Psicose" (1960), "O Iluminado" (1980), passando por filmes de terror de diversas sub-temáticas como o gore, terror psicológico, sobrenatural, explorando os diversos sentidos e em determinadas salas, fazendo com que o visitante se sinta dentro das obras apresentadas, como a sala do filme "O Tubarão" (1975) onde parece que realmente o visitante será atacado por um tubarão assassino e a sala do filme "O Exorcista" (1973) onde é exposta a cena crucial do filme que a menina possuída pelo demônio, gira a cabeça (essa sala eu saí correndo porque de fato deu medo).

Como primeira exposição imersiva que visitei em minha vida, achei muito proveitosa pois a forma da narrativa exposta ali, faz com que de fato haja um diálogo entre o visitante e a exposição. Por ser uma temática (filmes de terror) que é cotidiana à maior parte das pessoas em momentos de lazer, é muito fácil do visitante se identificar com o que está exposto mesmo que não haja um profundo conhecimento do acervo.

Hoje muito se é criticado das exposições imersivas que são comumente apresentadas, que não há uma narrativa estabelecida com apenas a exposição de imagens e apenas a finalidade de um deleite blockbuster, mas posso dizer que a exposição "Terror no Cinema" sai desta bolha e conversa de fato com o visitante.
Depois que retornamos à Ouro Preto, eu gostei tanto que saí em busca dos filmes que foram ali expostos, e entendendo que, se a museologia é um campo que conserva, pesquisa e expõe seus acervos para a geração de conhecimento, a exposição do MIS consegue cumprir o seu papel museográfico dentro e fora da instituição.


Visita virtual: Memorial da Resistência de São Paulo

    Levando em consideração os diversos meios de difusão cultural, propaganda e promoção de suas próprias atividades, os museus lançam mão cada vez mais dos meios digitais para que o público interaja não somente com as coleções expostas como também tome ciência de que as instituições museológicas vão além de espaços onde itens ficam expostos em vitrines.

    O Memorial da Resistência de São Paulo é um excelente exemplo de como a comunicação no meio digital pode servir não apenas para difundir as exposições mas também informar ao público das ações educativas que compõe as atividades da instituição.



    No site podemos observar que os menus dispostos de forma simples e de fácil navegação deixam a cabo do visitante percorrer os campos na ordem que lhe convém, este tipo de navegação permite com que as informações sejam apreciadas e compreendidas de forma orgânica. Outro ponto observado é de que para além de um meio de comunicação com seu público, o site do Memorial da Resistência de São Paulo também serve como ferramenta de consulta, estão listadas exposições e mostras que datam desde 2009.


    Com a primeira lei de acessibilidade sendo de 2000, somente em 2015 a acessibilidade foi contemplada no estatuto de museus, pode-se dizer que a acessibilidade em museu é um debate jovem, diversas instituições estão trabalhando para que sejam cada vez mais acessíveis e o site do Memorial da Resistência de São Paulo não fugiu da briga, há uma disposição no menu principal sobre acessibilidade onde é possível alterar o contraste, ampliar os textos e até mesmo ativar uma ferramenta que permite a navegação assistida por libras.


    A visita virtual ao Memorial da Resistência de São Paulo me trouxe não somente a impressão mas a convicção de que os acervos são tratados de forma profissional e humana, é perceptível o cuidado e a atenção na disposição da gestão de transparência, história institucional e redes de memória. Nada mais justo para uma instituição que trata de temas tão sensíveis, difundir de forma clara e inclusiva suas coleções exposições no campo virtual.















Sob uma perspectiva: Explorando o Memorial da Resistência (SP)

No dia 5 de fevereiro de 2024, ao chegarmos a São Paulo, uma metrópole caracterizada pela sua diversidade exuberante, porém, ao mesmo tempo, um ambiente desafiador para aqueles oriundos de culturas completamente distintas, fomos imersos em uma experiência enriquecedora, repleta de aprendizados, reflexões e sentimentos de nostalgia. Este relato emerge de uma perspectiva singular, originada de um momento marcante durante minha trajetória acadêmica, quando o Memorial da Resistência se destacou como uma referência fundamental para um importante trabalho. A visita pessoal a este espaço provocou uma reflexão ainda mais profunda, ampliando minha compreensão tanto no âmbito museológico quanto social.

É fascinante observar como o museu se empenhou em retratar meticulosamente o período histórico em questão, proporcionando aos visitantes uma experiência imersiva repleta de emoções. A narrativa histórica é apresentada de forma detalhada através de uma extensa linha do tempo, enquanto uma das celas, cuidadosamente reconstituída com colchão e banheiro, oferece uma visão vívida do cotidiano dos prisioneiros. No entanto, foi em uma cela específica que percebi um impacto emocional mais profundo: ali foram restauradas as marcas, frases e nomes deixados pelas vítimas, seus familiares e amigos. Esta, e a história do cravo, um símbolo de esperança e resiliência, distribuído pela mãe de uma detenta durante o Natal como uma forma de manter viva a chama da esperança em meio à adversidade.

A visita ao Memorial da Resistência não apenas nos permite testemunhar os horrores do passado, mas também nos desafia a refletir sobre as lutas e as conquistas daqueles que foram silenciados pela opressão. É um lembrete poderoso da importância de preservar a memória coletiva e de dar voz àqueles que foram injustamente privados dela.





















Mergulho Subversivo

Não estive presente na visita e fiquei pensando muito em como comentar a experiência de

algo que não vivenciei, me esqueci que na arte sempre tem um fio interligando tudo.

Percebi então que a exposição “Antônio Obá: Revoada” presente na pinacoteca de São Paulo

e a exposição “Negros na Piscina” instalada na pinacoteca do Ceará, conversam passado e futuro, com as

discussões presentes, trazendo um questionamento feito em aula do que significa ser contemporâneo,

nada mais do que viver o agora em todos os sentidos.




A obra de Obá se apoia na rememoração histórica, ressignificação e ensinamento,

trata o ser na infância (nesse caso pelo olhar do artista racializado) não como

incapaz mas sim agente transformador do seu próprio tempo, construtor da realidade,

capaz de realinhar a própria posição no mundo e ensinar seus semelhantes.

Negros na piscina me apresenta esses corpos ja crescidos e atuantes no tempo espaço,

são retratos do cotidiano dos mesmos, tendo acesso ao lazer e educação que foram negados.

Os dois atos são retratos de subversão, de alcance da autonomia roubada, o mais contemporâneo

dos debates, a construção de um espaço misto com a individualidade plural. 




Cidades Globais e seus museus como espaços de resistência da memória

A globalização, conceito muito tratado durante a disciplina, caracteriza o que São Paulo tem como essência: uma cidade global. Ao andar pelas ruas da cidade nos deparamos com diversos “não-lugares”, conceito na geografia que caracteriza por exemplo lojas da empresa Mc Donald’s: você pode entrar em uma loja em qualquer lugar do mundo e não saber a onde está, pois elas são todas iguais. As cidades globais também têm essa característica, configurando um espaço-tempo global ao se desvincular de suas particularidades.

Isso se torna uma problemática pois cada vez estamos ficando mais alienados e consumindo os mesmos tipos de entretenimento, seja esses filmes, jogos, modos de lazer. A globalização, apesar de cumprir sua promessa de integração econômica e social, também homogeiniza a cultura. Como explica Marta Anico em seu artigo “A pós modernização da cultura: patrimônio e museus na contemporaneidade”:

“Assim, e num quadro de intensificação dos fluxos culturais globais e de comodificação da cultura (Appadurai, 1998), em que esta se transforma numa mercadoria produzida e consumida à escala global, verifica-se um crescente distanciamento e alheamento dos indivíduos em relação ao seu passado histórico, às suas raízes, origens e especificidades culturais locais, produzindo sujeitos descentrados em busca de mecanismos e instrumentos de identificação e vinculação locais no novo contexto global.” Pág. 2

Ao passo de que o mundo contemporâneo se configura culturalmente em movimento; ou seja, em sua liquidez, ainda existem espaços que lutam contra essa homogeneidade cultural e buscam preservar e incitar o culto a memória: um deles são os museus. E São Paulo está cheio deles. De todos os tamanhos, temáticas e propostas, os museus de São Paulo prometem uma experiência de emoções e aprendizado concebendo diferentes culturas e momentos históricos seja da cidade, do país ou do mundo.

Apesar de não ter ido à visita técnica, já visitei alguns de seus museus e todas as vezes me encontrei maravilhada com o mundo que se abre em cada um deles. Ao buscar os locais que meus colegas de turma tiveram o prazer de ir, encontrei no MASP a exposição “Histórias Indígenas”, que me chamou atenção por justamente ajudar a quebrar esse paradigma de “comodificação da cultura”, e incitar a busca pelas nossas raízes, origens e especificidades.

Ao trabalhar com indígenas da América do Sul e do Norte, da Oceania e Escandinávia, a exposição encontra um caráter polifônico, não se bastando a “História Oficial”, mas trazendo uma visão transversal e aberta de relatos pessoais em níveis micro ou macro, de maneira que justapostas, criam um novo olhar para esses povos que, ao contrário de como é pensado pelo comum, não estão presos ao passado e vivem o presente.

Indígenas ocupam os mais diversos lugares: universidades, museus, teatros, praças, escolas, estádios, lojas, internet. E o Museu de Arte de São Paulo trás de forma feliz essa ocupação, desmistificando o que a comodificação da cultura pretende dissipar: que indígenas não existem mais, que ficaram no passado junto com a colonização. A mostra também traz a oportunidade de palestras e seminários com indígenas, trazendo com este contato a admiração por esses povos originários.





Explorando a Arte e a História: Roteiros pelos Museus de São Paulo

 

A visita técnica a São Paulo foi incrível! Visitamos diversos tipos de museus com propostas distintas, todos centrados em artes e cultura, de maneiras diversas e abrangentes. O MIS, por exemplo, apresentou uma abordagem única, concentrando-se no gênero do terror e oferecendo percursos envolventes com personagens icônicos de filmes de terror que deixaram sua marca na história. No total, visitamos três museus de destaque.

O MIS (Museu da Imagem e do Som) é uma instituição cultural em São Paulo dedicada à preservação e difusão da imagem e do som, incluindo cinema, música, fotografia e artes digitais. O museu oferece exposições interativas e eventos que exploram diversas formas de expressão audiovisual, além de promover atividades educativas e culturais para o público.

O MASP (Museu de Arte de São Paulo) é um dos mais importantes museus de arte do Brasil, conhecido por sua arquitetura modernista e pela coleção de obras de arte internacionalmente reconhecidas. Localizado na Avenida Paulista, o MASP abriga uma vasta coleção que inclui pinturas, esculturas, fotografias e artes decorativas, com destaque para artistas como Van Gogh, Rembrandt, Picasso e Portinari. Além das exposições permanentes, o museu também realiza mostras temporárias e atividades educativas para o público.

O Memorial da Resistência de São Paulo é um espaço dedicado à preservação da memória e da história das lutas políticas e sociais no Brasil. Localizado no prédio que foi sede do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DEOPS-SP), o memorial oferece exposições, atividades educativas e culturais, além de promover debates e reflexões sobre temas relacionados à resistência, direitos humanos e democracia. É um local importante para a preservação da memória coletiva e para o fortalecimento da democracia no país.






Um novo jeito de se fazer museus

 Na visita técnica em São Paulo que a turma de museus no mundo contemporâneo realizou, muitas questões vieram a tona sobre o modo de se construir uma nova narrativa que quebram com os paradigmas dos museus tradicionais. Uma dessas exposições foi a "Histórias Indígenas" do Museu de Arte de São Paulo, que se caracteriza por expor obras de artistas e curadores indígenas de várias etnias do mundo inteiro.


Foto tirada da exposição Histórias Indígenas do MASP

Em sua maioria, quando vamos falar sobre uma minoria que sofre com preconceito e violências, temos a tendência de falar somente sobre a violência sofrida por esse grupo, muitas vezes esquecendo de retratar sua força, sua riqueza cultural e sua espiritualidade.

A exposição contrapõe esse ponto, em seu primeiro módulo ela trata sobre os grupos de resistência e a luta do povo, mas ela não se limita a falar somente de suas lutas, os outros módulos se expandem para assuntos como, alimentação, relações familiares, religiosidade, linguagem, poder político e espiritualidade. Sendo assim o visitante tem não só apenas uma noção da resistência dos povos representados, mas também tenha noção da cultura e de seu modo de vida.

Cada poço retratado cria uma curiosidade a mais no visitante, seja pela curiosidade sobre as artes de deserto de pedra da Austrália, seja pela espiritualidade e religiosidade complexa dos povos Maori, essa exposição é de resistência cultural, resistência religiosa, resistência alimentar. De forma bem trabalhada ela provoca o visitante e o aproxima das relações com aqueles que produziram as obras.

Portanto, uma exposição como essa é a esperança de dias melhores e mais inclusivos nos museus, um modelo que deve ser seguido, para que grupos não sejam associados apenas a sofrimento e violências, mas sim associados a uma cultura linda e rica e que deve ser preservada, pois esse é o papel dos museus na nossa sociedade.




Fotos tiradas na exposição "Histórias Indígenas" do MASP

Por: Gabriel do Carmo Guthier


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Museu Afro: Espaço de representatividade

A cidade de São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo é uma cidade que respira arte. Foi uma experiência incrível conhecer a diversidade que os museus e a cidade de São Paulo possuem. Nada se compara com a correria e a beleza da cidade grande.

O museu que mais me chamou atenção foi o Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, um museu que apresenta uma diversidade enorme de acervo, como indumentárias, esculturas, gravuras e pinturas de cavalete, que retratam a cultura afro brasileira tanto religiosa como cotidiana. Além da diversidade do acervo e a beleza do circuito expográfico, o museu apresenta uma equipe de profissionais de diversas áreas, o que surpreende, visto a realidade da maioria dos museus brasileiros. 

O museu foi inaugurado em 2004 e desde 2009 é uma instituição pública, vinculado à Secretaria  de Estado e Cultura de São Paulo, o museu está localizado no parque Ibirapuera e possui mais de 8 mil obras. Um museu que está localizado em um espaço privilegiado e possui um acervo que merece tal destaque. 

Ao adentrar o circuito expositivo, as obras do artista Benedito José Tobias, Retratos, me chamaram atenção. Me encantei com o olhar que o artista retratou as pessoas e fiquei intrigada por nunca ter ouvido sobre Benedito.  

Retratos, Museu Afro. 
Fevereiro de 2024

Segundo o site do Museu Afro, Benedito José (São Paulo, 1894-1970?) era pintor, desenhista e aquarelista. Atuou na capital paulista durante sua carreira, cujo período de maior atividade foi as décadas de 1930 e 1940, porém sua vida e obra ainda não foram pesquisadas.

Além de ficar encantada com o acervo, fiquei maravilhada em conhecer a equipe que há na instituição. Conhecer o trabalho feito na reserva técnica e o carinho que o educativo teve ao nos receber não tem preço. Como estudante de museologia e futura museóloga sei das dificuldades nas instituições museológicas, porém me alegro em saber que há museus como o Museu Afro, uma instituição que possui um prédio estruturado e uma equipe receptiva que nos acolheu e nos apresentou cada espaço da instituição. 



Deixo aqui a minha dica para aqueles que pretendem visitar São Paulo e fazer um tour cultural, não deixem de visitar o Museu Afro.

Museus de São Paulo: Entre o passado e o presente

    São Paulo foi uma grande surpresa e um choque de realidade, foi uma aventura que transcendeu as expectativas. Em meio à imponente selva de pedras, encontrei uma cidade pulsante, onde a arte e a cultura permeiam cada esquina. Os museus, tanto os que preservam a história quanto os contemporâneos, se tornam refúgios de contemplação e reflexão entre as buzinas e a vida corrida, ao longo das visitas aos museus diversas sensações e sentimentos foram despertados, os quais eu realmente não esperava vivenciar.

    No Memorial da Resistência de São Paulo, deparei-me com o que restou de seu espaço carcerário, composto por 4 celas, o corredor principal e o corredor do banho de sol, um pedaço do passado que ecoavam as vozes daqueles que lutaram contra a opressão. Ali me emocionei bastante com as cartas ali expostas, uma em questão me marcou bastante, onde uma criança relatava como era os seus dias para o seu pai, desde os detalhes mais simples, até os que ele julgava ser importante, como sobre a sua pipa, e sempre perguntando "Quando você vem?" 

    No Museu de Imagem e Som (MIS), a experiência imersiva desafiou minhas expectativas. Eu esperava uma jornada "leve”, mas fui envolvida por uma atmosfera densa e intrigante de um filme de terror. Cada projeção e cada som estimulavam meus sentidos. Foi a minha primeira vez em uma exposição imersiva e foi uma experiência que com toda certeza ficará marcada para sempre. 

    Já no Museu de Arte de São Paulo (MASP), pude contemplar obras que haviam povoado minha imaginação desde a infância. Contemplar de perto a obra “Os Retirantes” de Portinari foi como reencontrar um velho amigo, a mesma esteve muito presente em minha vida desde quando eu era pequena, através dos livros e também das aulas de artes na FAOP. 

    Enquanto eu estava ali observando o espaço em geral, uma figura singular capturou minha atenção: uma senhora imersa na contemplação das obras, indiferente a toda agitação dos estudantes com seus celulares e câmeras, querendo garantir uma boa selfie/foto para postar em suas redes sociais. O seu olhar atento, sereno e ao mesmo tempo curioso revelava uma conexão com a arte, havia ali uma observação silenciosa que transcendia o tempo e o espaço. 

    Ao longo de toda a visita percebi a diversidade de público que frequentam os museus, cada um encontrando significados e inspiração de maneiras únicas e particulares. A visita técnica a São Paulo foi uma imersão profunda na arte, na história e na diversidade humana, uma jornada de autoconhecimento e descoberta, onde cada obra de arte me convidava a mergulhar mais fundo em minha própria história e identidade, tanto no passado quanto no presente.

Alguns registros das visitas aos Museus: