a tradição das visitas técnicas

No inverno de julho de 1945, quando as moças e senhoras costumavam usar chapéus em roupas de passeio e os homens trajavam ternos à rua, a turma do Curso de Museus do Museu Histórico Nacional/RJ excursionava para a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais. O grupo de 19 pessoas veio de trem numa viagem que durou 16 horas. Durante a permanência de uma semana visitaram também as cidades de Mariana, Congonhas do Campo e o então arraial de Ouro Branco.

Passados 68 anos, o Curso de Museologia da UFOP mantém a tradição das visitas técnicas iniciada pelo Curso de Museus. Todo semestre o DEMUL se reúne para discutir e aprovar os roteiros de viagens das disciplinas que possuem visitas previstas em suas ementas. Em geral, os estudantes organizam a hospedagem, na busca de conforto, higiene, bom preço e localização. Os professores, claro, responsabilizam-se pela elaboração dos roteiros detalhados, agendamentos, relatórios posteriores, avaliações e ainda por todo o aspecto operacional de deslocamento.

Em meio à transitoriedade do mundo contemporâneo as visitas técnicas permanecem uma boa tradição que nos orgulhamos em manter devido à sua importância como recurso pedagógico.

Este blog cumpre, pois o objetivo final de avaliar os estudantes em suas visitas aos museus. Suas postagens são registros, narrativas e leituras da experiência vivida, um diário coletivo, dinâmico, crítico, quiçá, divertido.

Tenham todos uma boa leitura e uma boa viagem!

Prof.ª Ana Audebert


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

A exposição "Terror no Cinema" nos dá uma aula sobre exposições imersivas!

 No dia 31 de outubro de 2023, o Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo inaugurou a exposição de curta duração “Terror no Cinema”, em comemoração a data do Halloween. Com curadoria de André Sturm, diretor-geral do MIS-SP, a exposição era inicialmente planejada para durar um curto intervalo de tempo. Porém, devido ao sucesso da experiência, a data foi estendida algumas vezes, sendo a última extensão que a exposição ficaria aberta até 18 de fevereiro de 2024, o que permitiu que a visitássemos durante a nossa visita à São Paulo. Tivemos a oportunidade de ver a exposição no dia 7 de fevereiro, com gratuidade concedida pela instituição perante ofício da Universidade Federal de Ouro Preto.

Por meio de ambientes imersivos, a exposição nos permite adentrar o ambiente de vários filmes clássicos do terror internacional e nacional, como “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920), “O Exorcista” (1973), “O Silêncio dos Inocentes” (1991), entre outros. Além das experiências imersivas e interativas, a exposição também traz uma rica coleção de objetos originais de diversos filmes, como, por exemplo, duas máscaras utilizadas na gravação de dois filmes da franquia Pânico (sendo estas da quinta e da sexta instalação), emprestadas pelo estúdio Paramount Pictures. Também estão presentes acervos emprestados de coleções particulares. A exposição não pode ser fotografada ou filmada, portanto, não existem fotos do acervo presente na exposição disponíveis nem mesmo como material de divulgação. É uma escolha interessante, visto que a publicidade da exposição se baseia apenas na promessa do que haverá ali, assim como no relato da experiência por meio de quem já participou.

Em uma época em que o conceito de megaexposições imersivas e interativas é utilizado vagamente para descrever oportunidades de entretenimento, o MIS-SP traz um exemplo de como fazê-las corretamente. A mistura de acervo, imagens, sons e da cenografia meticulosamente montada faz com que a experiência desperte todos os sentidos e os medos daquele que adentra o espaço. Existem salas mais tranquilas, assim como existem salas preparadas para assustar até os mais resistentes aos jumpscares, como o labirinto inspirado no filme “O Iluminado” (1980), onde são utilizados espelhos, luzes, fumaça e projeções para dar sustos, ou a sala de “O Exorcista” (1973), que representa a famosa cena onde a personagem principal está possuída.

É interessante a residência da exposição no espaço do MIS-SP dada a existência do segundo prédio da instituição, o MIS Experience, um espaço criado apenas para experiências imersivas. Atualmente essa instituição abriga a exposição “Chaves: a exposição”, que exibe acervos da famosa série mexicana e reproduz cenários da série em espaços visitáveis, onde as pessoas podem tirar fotos. A existência do MIS Experience é um exemplo interessante da necessidade dos museus atuais de competir com as experiências imersivas blockbuster que trazem grandes telas ou projeções de obras de arte, criando espaços visualmente bonitos e instagramáveis, sem nenhum acervo ou valor educacional. Talvez aí esteja a separação das experiências entre os dois prédios, visto que a “Terror no Cinema” se aproxima mais do museu tradicional.

A exposição “Terror no Cinema” é uma ótima opção de entretenimento e de experiência museal, dando um show de como unir as duas questões no contexto do museu contemporâneo. Apesar de termos visitado a exposição de graça, eu teria pago os R$ 30,00 do ingresso de bom grado, dado o quanto me diverti e aprendi.


Entrada da exposição “Terror no Cinema”. Foto de Daniele Matos.


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