a tradição das visitas técnicas

No inverno de julho de 1945, quando as moças e senhoras costumavam usar chapéus em roupas de passeio e os homens trajavam ternos à rua, a turma do Curso de Museus do Museu Histórico Nacional/RJ excursionava para a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais. O grupo de 19 pessoas veio de trem numa viagem que durou 16 horas. Durante a permanência de uma semana visitaram também as cidades de Mariana, Congonhas do Campo e o então arraial de Ouro Branco.

Passados 68 anos, o Curso de Museologia da UFOP mantém a tradição das visitas técnicas iniciada pelo Curso de Museus. Todo semestre o DEMUL se reúne para discutir e aprovar os roteiros de viagens das disciplinas que possuem visitas previstas em suas ementas. Em geral, os estudantes organizam a hospedagem, na busca de conforto, higiene, bom preço e localização. Os professores, claro, responsabilizam-se pela elaboração dos roteiros detalhados, agendamentos, relatórios posteriores, avaliações e ainda por todo o aspecto operacional de deslocamento.

Em meio à transitoriedade do mundo contemporâneo as visitas técnicas permanecem uma boa tradição que nos orgulhamos em manter devido à sua importância como recurso pedagógico.

Este blog cumpre, pois o objetivo final de avaliar os estudantes em suas visitas aos museus. Suas postagens são registros, narrativas e leituras da experiência vivida, um diário coletivo, dinâmico, crítico, quiçá, divertido.

Tenham todos uma boa leitura e uma boa viagem!

Prof.ª Ana Audebert


terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Visita Virtual ao Memorial da Resistência de São Paulo

 Memorial da Resistência de São Paulo

 Aberto ao público em 2009, o museu é um lugar de memória dedicado a preservar a história do prédio onde operou entre 1940 e 1983 o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops/SP), uma das polícias políticas mais truculentas da história do país.


 Por meio de exposições temáticas de grande impacto social, ações educativas, atividades para pessoas com deficiência e programações culturais gratuitas, o museu se consolidou como referência em Educação em Direitos Humanos, promovendo o pensamento crítico e desenvolvendo atividades sobre Direitos Humanos, Repressão, Resistência e Patrimônio.

 

 O Memorial da Resistência, ao abordar períodos de repressão política no Brasil, assume uma função social e política essencial na contemporaneidade.

 Ele oferece um espaço para reflexão crítica sobre os direitos humanos, democracia e resistência, conectando o passado ao presente.

 Museus contemporâneos estão cada vez mais adotando abordagens multissensoriais para envolver os visitantes. O Memorial pode explorar técnicas narrativas inovadoras, como a utilização de música, arte visual e elementos táteis, para transmitir de maneira mais impactante as histórias de resistência.                                        

 O Memorial da Resistência pode adotar uma abordagem de "memória viva", incentivando relatos orais e contribuições da comunidade. Essa prática mantém a relevância do museu ao incorporar narrativas em constante evolução e dando espaço para vozes menos ouvidas.

 O museu desempenha um papel educativo, buscando conscientizar o público sobre eventos históricos relevantes e as lutas por direitos e liberdades. Sua exposição e programação educativa contribuem para a formação crítica do visitante.


 Além da exposição, o museu desempenha um papel crucial na preservação de artefatos e documentos históricos relacionados à resistência. Esses itens são cuidadosamente catalogados, conservados e disponibilizados para pesquisa, contribuindo para a preservação da memória histórica.

 O Museu da Resistência de São Paulo mantém uma relação significativa com a contemporaneidade ao abordar temas históricos relevantes para os desafios sociais atuais. Sua expografia, foco na preservação da memória, engajamento com a comunidade e ênfase nos direitos humanos contribuem para uma compreensão dinâmica da resistência política e social. Além disso, o museu promove diálogo, reflexão sobre a justiça social e se adapta às mudanças sociais, mantendo-se como um espaço ativo de aprendizado e consciência nas questões contemporâneas.

                         

 O Museu da Resistência pode ampliar seu escopo para reconhecer e documentar lutas contemporâneas por direitos e justiça social. Isso permite que o museu mantenha sua relevância ao refletir e responder aos desafios atuais enfrentados pela sociedade.

 O museu pode e deve estabelecer parcerias estratégicas com instituições de pesquisa e universidades para promover a pesquisa acadêmica sobre resistência política. Isso não apenas enriquece a compreensão do público, mas também contribui para a produção de conhecimento acadêmico relevante.

 No contexto atual, o Museu da Resistência e o conteúdo didático no geral passado no semestre letivo 23/2 do curso de Museologia da UFOP, especificamente na matéria curricular "Museus no mundo contemporâneo" se projeta não apenas como um guardião da memória, mas como um espaço dinâmico que responde aos desafios do presente e antecipa as necessidades do futuro. Sua visão inclui a adaptação constante, o envolvimento ativo da comunidade e a promoção de diálogos construtivos sobre direitos humanos e resistência política.

 Assim, o Museu da Resistência de São Paulo ou museus em suas formas contemporâneas representam não apenas um repositório de história, mas um agente ativo na construção do entendimento coletivo, destacando a importância da resistência em contextos autoritários e contribuindo para a formação de uma sociedade mais consciente e comprometida na evolução dos saberes e valoração de sua cultura.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Museu Afro Brasil - A preservação da Herança Afro-Brasileira

    O Museu Afro Brasil, sob a direção de Emanuel Araújo, de fato desempenha um papel crucial na preservação e na promoção da cultura afro-brasileira, além de destacar a contribuição dos africanos e afrodescendentes para a construção da sociedade brasileira. O acervo diversificado, que inclui pinturas, esculturas, vestimentas, documentos e outros artefatos, oferece aos visitantes uma oportunidade única de mergulhar na rica história e nas influências culturais africanas no Brasil. 

    Através das diversas exposições e artefatos apresentados, o Museu Afro Brasil permite que os visitantes compreendam não apenas a diversidade cultural e a herança artística do continente africano, mas também a influência significativa dessas culturas na formação da identidade brasileira. Além disso, ao destacar os saberes e tecnologias trazidos pelos africanos escravizados, o museu lança luz sobre a contribuição desses grupos para o desenvolvimento econômico e cultural do Brasil. 

    É notável como o museu oferece uma oportunidade para que as pessoas se reconectem com suas raízes, entendam melhor suas próprias identidades e reconheçam a importância da preservação e celebração da diversidade cultural. Ao refletir sobre as tentativas de apagamento da cultura africana e afrodescendente na história do Brasil, o Museu Afro Brasil convida os visitantes a reconsiderarem suas próprias identidades e a reconhecerem a herança compartilhada que todos nós carregamos. 

    Por meio de sua abordagem educativa e provocativa, o Museu Afro Brasil inspira reflexão, diálogo e apreciação pela diversidade cultural, contribuindo assim para uma sociedade mais inclusiva e respeitosa com suas diferentes origens e tradições.


  Alguns registros que fiz durante a visita ao Museu Afro Brasil:





terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

 "Museu AfroBrasil - um resgate ancestral afro brasileiro"

Cravado bem ali no Parque do Ibirapuera, em um dos parques mais famosos de São Paulo, apresento a vocês o Museu AfroBrasil, que está sediado no pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, e com um vasto acervo de mais de 8 mil obras compreendidas entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas com autoria de brasileiros e estrangeiros.

Reflito que ainda toda a humanidade terrestre tem-se uma grande dívida para com o passado, presente e o futuro de toda a cultura, legado africano e afro descendente ao redor do mundo.

Instituições museológicas como essa, vem a retratar, resgatar, registrar, preservar e argumentar a partir do olhar e da experiência do negro sobre a formação da identidade e pertencimento histórico social enquanto sociedade brasileira. 

Para que se faça jus a toda essa história de luta, resistência, multiculturalidade e salvaguarda de todo esse legado histórico, temos que estar imersivo de corpo e alma dentro do museu para contemplarmos  e vivenciarmos um pouquinho destes heróis e heroínas na luta contra a escravidão e na tentativa de vislumbrar por dias melhores nos seus caminhos...







 Uma viagem virtual à mente humana. MASP Google Art's and Culture


    Na exposição, Histórias da Loucura: Desenhos do Juquery, está presente as obras feitas por pacientes do famoso Hospital Psiquiátrico, Juquery, de 1898. 

    Com um conjunto de 102 obras doadas ao Museu, tem como intuito mostrar que a arteterapia não é só apenas um exercício para serem feitos nos consultórios ou nas terapias em grupo, mas algo sim para ser levado como arte e ao público em massa. 

    Em parceria com o Google Art’s and Culture, o acesso a estas obras e a espaços como o Museu de Arte de São Paulo, se torna fácil e presente para todos aqueles que demonstrem interesse ou curiosidade pelas artes e suas vertentes enraizadas na cultura brasileira, em sua grande pluralidade. 

    As exposições, inicialmente feitas por um dos médicos do Hospital, Osório César, faz parte da história do museu desde seus primórdios, tendo sua estreia na instituição apenas um ano depois de sua inauguração. 

    Os desenhos são simples e com materiais do cotidiano, pequenos e sem muitos detalhes, mas a clareza na representação dos mesmo.



    A visita é intuitiva e conta com algumas informações das doações e as principais obras do acervo.

    É possível também, ao clicar no botão de informações da obra no canto esquerdo da tela, criar cartões postais com poemas, que podem ser enviados via sua conta google.






Jardim de Esculturas do Museu de Arte Moderna (MAM) no Parque Ibirapuera

O Jardim de Esculturas do Museu de Arte Moderna (MAM) no Parque Ibirapuera oferece aos visitantes uma experiência artística única em meio à natureza exuberante de São Paulo. Espalhadas pelo parque, as esculturas criam um diálogo cativante com o ambiente ao redor, convidando os espectadores a explorarem as diferentes formas, texturas e conceitos artísticos.

Desde obras abstratas até representações figurativas, a exposição apresenta uma ampla variedade de estilos e materiais, refletindo a diversidade e a criatividade da cena artística contemporânea. Algumas esculturas se destacam pela sua imponência e grandiosidade, enquanto outras surpreendem pela delicadeza e detalhamento.


Ao caminhar pelos gramados do Parque Ibirapuera, somos envolvidos por uma atmosfera de contemplação e descoberta. Além das esculturas estáticas, a exposição também inclui instalações interativas que convidam os espectadores a participarem ativamente da experiência artística. Essas obras dinâmicas e envolventes estimulam os sentidos e convidam à exploração criativa, criando uma experiência ainda mais imersiva e marcante para o público.


A Exposição de Esculturas do MAM no Parque Ibirapuera é mais do que uma simples mostra de arte ao ar livre, é um espaço de encontro, inspiração e reflexão para os visitantes. Ao unir a beleza natural do parque com a expressão artística das esculturas, a exposição proporciona uma experiência enriquecedora que celebra a conexão entre arte, natureza e humanidade.



Para além do Terror no Cinema! - Uma exposição do Museu da Imagem e do Som (MIS)

 A parte da visita que mais me marcou em São Paulo foi ao Museu da Imagem e do Som (MIS) onde visitamos a exposição imersiva "Terror no Cinema" que trouxe temáticas desde o terror clássico de diversas épocas como "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920), "Nosferatu" (1925), "Psicose" (1960), "O Iluminado" (1980), passando por filmes de terror de diversas sub-temáticas como o gore, terror psicológico, sobrenatural, explorando os diversos sentidos e em determinadas salas, fazendo com que o visitante se sinta dentro das obras apresentadas, como a sala do filme "O Tubarão" (1975) onde parece que realmente o visitante será atacado por um tubarão assassino e a sala do filme "O Exorcista" (1973) onde é exposta a cena crucial do filme que a menina possuída pelo demônio, gira a cabeça (essa sala eu saí correndo porque de fato deu medo).

Como primeira exposição imersiva que visitei em minha vida, achei muito proveitosa pois a forma da narrativa exposta ali, faz com que de fato haja um diálogo entre o visitante e a exposição. Por ser uma temática (filmes de terror) que é cotidiana à maior parte das pessoas em momentos de lazer, é muito fácil do visitante se identificar com o que está exposto mesmo que não haja um profundo conhecimento do acervo.

Hoje muito se é criticado das exposições imersivas que são comumente apresentadas, que não há uma narrativa estabelecida com apenas a exposição de imagens e apenas a finalidade de um deleite blockbuster, mas posso dizer que a exposição "Terror no Cinema" sai desta bolha e conversa de fato com o visitante.
Depois que retornamos à Ouro Preto, eu gostei tanto que saí em busca dos filmes que foram ali expostos, e entendendo que, se a museologia é um campo que conserva, pesquisa e expõe seus acervos para a geração de conhecimento, a exposição do MIS consegue cumprir o seu papel museográfico dentro e fora da instituição.


Visita virtual: Memorial da Resistência de São Paulo

    Levando em consideração os diversos meios de difusão cultural, propaganda e promoção de suas próprias atividades, os museus lançam mão cada vez mais dos meios digitais para que o público interaja não somente com as coleções expostas como também tome ciência de que as instituições museológicas vão além de espaços onde itens ficam expostos em vitrines.

    O Memorial da Resistência de São Paulo é um excelente exemplo de como a comunicação no meio digital pode servir não apenas para difundir as exposições mas também informar ao público das ações educativas que compõe as atividades da instituição.



    No site podemos observar que os menus dispostos de forma simples e de fácil navegação deixam a cabo do visitante percorrer os campos na ordem que lhe convém, este tipo de navegação permite com que as informações sejam apreciadas e compreendidas de forma orgânica. Outro ponto observado é de que para além de um meio de comunicação com seu público, o site do Memorial da Resistência de São Paulo também serve como ferramenta de consulta, estão listadas exposições e mostras que datam desde 2009.


    Com a primeira lei de acessibilidade sendo de 2000, somente em 2015 a acessibilidade foi contemplada no estatuto de museus, pode-se dizer que a acessibilidade em museu é um debate jovem, diversas instituições estão trabalhando para que sejam cada vez mais acessíveis e o site do Memorial da Resistência de São Paulo não fugiu da briga, há uma disposição no menu principal sobre acessibilidade onde é possível alterar o contraste, ampliar os textos e até mesmo ativar uma ferramenta que permite a navegação assistida por libras.


    A visita virtual ao Memorial da Resistência de São Paulo me trouxe não somente a impressão mas a convicção de que os acervos são tratados de forma profissional e humana, é perceptível o cuidado e a atenção na disposição da gestão de transparência, história institucional e redes de memória. Nada mais justo para uma instituição que trata de temas tão sensíveis, difundir de forma clara e inclusiva suas coleções exposições no campo virtual.