a tradição das visitas técnicas

No inverno de julho de 1945, quando as moças e senhoras costumavam usar chapéus em roupas de passeio e os homens trajavam ternos à rua, a turma do Curso de Museus do Museu Histórico Nacional/RJ excursionava para a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais. O grupo de 19 pessoas veio de trem numa viagem que durou 16 horas. Durante a permanência de uma semana visitaram também as cidades de Mariana, Congonhas do Campo e o então arraial de Ouro Branco.

Passados 68 anos, o Curso de Museologia da UFOP mantém a tradição das visitas técnicas iniciada pelo Curso de Museus. Todo semestre o DEMUL se reúne para discutir e aprovar os roteiros de viagens das disciplinas que possuem visitas previstas em suas ementas. Em geral, os estudantes organizam a hospedagem, na busca de conforto, higiene, bom preço e localização. Os professores, claro, responsabilizam-se pela elaboração dos roteiros detalhados, agendamentos, relatórios posteriores, avaliações e ainda por todo o aspecto operacional de deslocamento.

Em meio à transitoriedade do mundo contemporâneo as visitas técnicas permanecem uma boa tradição que nos orgulhamos em manter devido à sua importância como recurso pedagógico.

Este blog cumpre, pois o objetivo final de avaliar os estudantes em suas visitas aos museus. Suas postagens são registros, narrativas e leituras da experiência vivida, um diário coletivo, dinâmico, crítico, quiçá, divertido.

Tenham todos uma boa leitura e uma boa viagem!

Prof.ª Ana Audebert


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Recife: uma viagem subjetiva - por Cristiana Barroso




Evocação Do Recife

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!

Manuel Banderia
(o poema não está na íntegra pois é muito longo. Caso alguém se interesse segue link http://opovonalutafazhistoria.blogspot.com.br/2011/06/evocacao-do-recife-manuel-bandeira.html



Recife é um município e capital do estado de Pernambuco, no Brasil. Pertence à Mesorregião Metropolitana do Recife e à Microrregião do Recife. Muitas são as referências dadas à Recife, como Veneza Brasileira, Florêncça dos Trópicos, Cidade Mauricia e, a mais interessante, Capital Brasileira dos Naufrágios e Cidade Maguetown. Percebe-se por aí a multiplicidade de visitantes da querida Recife.
Há muitos lugares dignos de visita na cidade de Recife, seria necessário mais do que um final de semana para conseguir, pelo menos, os principais pontos turísticos conhecer. Portanto a visita restringiu-se à uns poucos museus: Museu do Homem, Instituto Ricardo Brennand, Oficina Francisco Brennand, Museu do Homem do Nordeste e por último o Museu do Mamulengo em Olinda, além de passeios pela cidade, praia de Boa Viagem, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e, ainda um passeio de bicicleta, pela ciclovia, até o Recife antigo (marco zero) com direito a travessia de barco para a praia de Boa Viagem.


foto: Cristiana Barroso
Instuto Ricardo Brennand – Museu Castelo São João. Um lugar muito interessante de propriedade do colecionador Ricardo Brennand. Sabe-se que sua coleção se iniciou quando ainda menino com canivetes e outras armas brancas de todo tipos. 

Após longos anos fundou o instituto, reunindo todas essas peças e, muitas outras acumuladas ao longo dos anos, formando uma instituição sem fins lucrativos.  Ricardo Brennand possui obras de toda espécie, um verdadeiro gabinete de curiosidades moderno. O instituto possui uma área de 77.000m². As obras estão espalhadas, tanto à céu aberto, quanto no palácio pelos corredores, salas e grandes salões. O museu de arte Castelo São João é uma réplica de castelo medieval com paredes grandes espessas e maciças, além de outras características inspiradas no estilo Tudor1. O castelo abriga peças provenientes da Europa, Ásia, América e África (séculos XV e XXI).  


foto: Cristiana Barroso
A coleção vai de Pintura, brasileira e estrangeira, Armaria, Tapeçaria, Artes Decorativas, Escultura e Mobiliário. Destaque para a maior coleção privada do pintor holandês Frans Post. Interessante citar que quase nenhuma obra possui etiqueta sobre o autor ou sobre sua procedência, com exceção das obras de Frans Post. O Instituto também não tem trabalhos de mediação ou ação educativa, ou seja, um local apenas para deleite e curiosidade. O museu de Armas Castelo São João abriga a maior coleção de armas brancas de estilo medieval do mundo. Durante o passeio no castelo, fica a impressão de estarmos dentro de um filme medieval com tantas armaduras, adagas, espadas e todo tipo de arma branca imaginável.  
Além, das obras de arte o instituto abriga também uma biblioteca com vasto acervo em História do Brasil-holandês, opúsculos (pequena obra de ciência, literatura e arte), periódicos, partituras, discos, forografias, albúns iconográficos e obras raras. São obras dos século XVI ao XX. 
O instituto Ricardo Brennand é com certeza um local para apreciação!!

foto: Cristiana Barroso
Oficina Francisco Brennand.
Trata-se de um museu aberto muito parecido com o Centro de Arte Contemporânea Inhotim. O local anteriormente pertenceu ao pai de Francisco Antiga fábrica de tijolos e telhas. As obras estão espalhadas pelo conjunto arquitetônico monumental da antiga olaria, que segundo ele está em constante processo de mutação, sua obra se associa à arquitetura para “...dar forma a um universo abissal, dionisíaco, subterrâneo, obscuro, sexual e religioso” (BRENNAND). O artista possui um trabalho original e “...contínuo de criação que confere à Oficina um caráter inusitado, identificando-a como uma instituição intrinsecamente viva e com uma dinâmica que torna imprevisíveis os rumos da arquitetura e da obra” (BRENNAND). A oficina surgiu em 1971 nas ruínas de uma olaria do século XX. Nenhuma das obras possui etiquetas explicativas, o local também não conta com mediadores, senão, para deficientes visuais. Durante a visita foi possível observar uma mediação neste sentido. Praticamente todas as obras podem ser tocadas, raras exceções, das obras que não podem ser tocadas ou fotografadas.
foto: Cristiana Barroso
Francisco Brennand pertence à mesma família que o colecionador Ricardo Brennad. Este ao contrário de seu parente "coleciona" apenas obras de sua autoria. Além das esculturas, o artista também trabalha com pinturas, dentro deste mesmo local há um salão que abriga a coleção de pinturas de várias técninas, infelizmente não é permito fotografar as pinturas. Segundo funcionários da Oficina o Sr. Francisco tem grande apego à suas obras e não faz nenhuma questão para que sejam vendidas. Na loja as compras são feitas apenas em dinheiro não facilitando a venda das mesmas. Percebe-se que a Oficina não conta com apoio financeiro de nenhum patrocinador. Durante a visita tive o privilégio de conhecer o Sr. Francisco Brennand pessoalmente. 
 



foto: Cristiana Barroso
Museu do Homem do Nordeste: Museu constituído de artefatos da herança cultural da formação do povo nordestino. Segundo informações, trata-se do mais importante museu antropológico do Brasil.Foi fundado em 1979, pelo sociólogo, Gilberto Freyre e, está ligado à Diretoria de Documentação da Fundaj. Embora seja dito que o museu possui cerca de 20 mil peças, fica a impressão de faltar algo para se ver.  Artefatos indígenas, por exemplo, há pouquíssimos. 


foto: Cristiana Barroso

O mesmo acontece com a vitrine dos orixás. Somente na parte religiosa há um acervo mais consistente. O museu conta com ação educativa e toda a documentação do acervo está em perfeita ordem.  




Museu do Mamulengo – Espaço Tiridá:  
foto: Cristiana Barroso
O museu reúne cerca de 1.200 bonecos antigos e contemporâneos. Através dos bonecos é possível perceber o universo e linguagem lúdica própria da região. Os bonecos retratam a estrutura histórica, social e política da região através de personagens exóticos, que foram eternizados pelas mãos habilidosas dos “mestres mamulengueiros”. Trata-se do primeiro museu de bonecos populares do Brasil e da América Latina.
A maioria dos bonecos eram vendidos como peças de decoração, pois os mestres nem sempre eram reconhecidos ficando assim os bonecos nas mãos de parentes que acabavam por vende-los. A visita ao Museu do Mamulengo é muito rica, o acervo é muito expressivo e consistente. Há bonecos de toda a espécie desde Lampião à padres.  


foto: Cristiana Barroso
A visita é feita com mediação onde cada parte do acervo é explicada de acordo com sua história. Segundo, informações obtidas no próprio museu, a documentação do acervo está regularizada, embora não possua um museólogo atuando no local, toda a documentação foi feita de acordo com os parâmetros da documentação: inventário, catalogação, marcação, etc. 
O Museu do Mamulengo, com certeza, deve ser visitado por todos que passam por Olinda.





 
Esculturas 
de Francisco Brennand
Atração Turística Local 
Aos domingos a partir das 7h da manhã saindo de pontos específicos de Recife a prefeitura disponibiliza ciclo faixa móvel de turismo e lazer, que liga a zona Norte e Sul da cidade, com aproximadamente 20 km para passeios. 
O trajeto conta com várias atrações dentre elas Museu do Estado, Câmara Municipal de Recife, Faculdade de Direito, Teatro Sta. Isabel, Palácio do Campo da Princesa, Palácio da Justiça (ambos locados em edifícios históricos maravilhosos) todos fechados para visitação aos sábados/domingos.





Feira Japonesa de artesanato e culinária
No Recife Antigo 5percebe-se um descaso coma as edificações históricas poucos estão conservados e ocupados.  
A prefeitura de Recife, atualmente, investe em eventos para que o local seja novamente ocupado. Atrações como, : música, dança, culinária, artesanato e apresentação de cosplay, tem sido uma das alternativas para uma reapropriação do Recife antigo. Ao lado imagem da Feira japonesa.




Exposição: Cidade em Tiras.
foto: Cristiana Barroso
Além da feira é possível visitar exposições no prédio da Caixa Econômica Federal, como por exemplo, exposição - CIDADE EM TIRAS: A Metrópole Brasileira Através das Histórias em Quadrinhos do cartunista Laerte, que como o próprio nome diz, retrata a cidade de São Paulo através dos personagens em quadrinhos: temas como o sexo, as drogas, os crise dos relacionamentos, as dificuldades no mundo do trabalho, a criminalidade urbana, a volta ao regime democrático, a ecologia entre outros temas fizeram história na década de 80. A cidade de São Paulo com pano de fundo é outro objeto explorado pelos cartunistas. 

Artesanato local.
foto: Cristiana Barroso


Em frente ao prédio da caixa Econômica pode-se visitar o centro de Artesanato de Pernambuco, com objetos feitos por artesão locais. O centro de Artesanato de Pernambuco fica na Praça Rio Branco no Marco Zero6. Ao lado temos o Rio Capibaribe.





Antes de encerrar minha trajetória por Recife, deixo aqui algumas imagens das ruas de Olinda, onde a arte está presente nos muros das ruelas e escadarias! Olinda faz parte da Região Metropolitana de Recife.   

foto: Cristiana Barroso

foto: Cristiana Barroso


1 O estilo Tudor, em arquitetura, é o último desenvolvimento da arquitetura medieval durante o período Tudor (1485–1603) e até mesmo posteriormente, por patronos conservadores. Ele seguiu o estilo perpendicular e, embora seja substituído pela arquitetura elisabetana na construção doméstica, o estilo Tudor ainda se manteve no gosto inglês, inclusive nas universidades, como as de Oxford e Cambridge, onde continuam a ser realizadas obras no estilo Tudor que remontam os primeiros tempos do neogótico. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Estilo_Tudor. Acessado em 31/0114.




2 O rio Capibaribe é um curso d'água do estado de Pernambuco, no Brasil. Seu nome é originário da língua tupi e significa "no rio das capivaras", através da junção dos termos kapibara (capivara), y (água, rio) e pe (em) .Nasce na Serra de Jacarará , no município de Poção. Antes de desaguar no Oceano Atlântico, passa pelo centro da cidade do Recife.Possui 240 quilômetros de extensão e sua bacia, aproximadamente 5 880 quilômetros quadrados. Possui cerca de 74 afluentes e banha 42 municípios pernambucanos, entre eles Toritama, Santa Cruz do Capibaribe, Salgadinho, Limoeiro, Paudalho, São Lourenço da Mata e o Recife. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Capibaribe. Acessado em 29/01/14.


3 O Poço da Panela é um bairro de classe média de Recife que se localiza na zona norte da cidade.2 Possui uma área territorial de 87 hectares, uma população residente de 4.006 pessoas e uma taxa geométrica de crescimento anual de 0,45.3 O Poço da Panela (Poço) faz fronteira com os bairros de Casa Forte, Casa Amarela, Santana, Iputinga, Cordeiro e Monteiro, além de ser banhado pelo Rio Capibaribe. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Po%C3%A7o_da_Panela. Acessado em 31/01/14.


4 Casa Amarela é um bairro da cidade do Recife. Localiza-se na região norte. É um dos mais populosos da cidade, famoso pela seu mercado popular, feira-livre, forte comércio e intenso tráfego de pessoas diariamente. É o maior colégio eleitoral da capital pernambucana. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_Amarela_%28Recife%29. Acessado em 31/01/14.


5 Recife é um bairro da cidade do Recife (a capital do estado de Pernambuco), correspondente ao centro histórico conhecido como o Recife Antigo.Em seu ponto mais oriental, no porto, situa-se a Praça Rio Branco – o Marco Zero1 , margeada pelo Oceano Atlântico.



6 Marco Zero é o local em que Recife nasceu, serve como ponto principal das estradas de Pernambuco.

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