Andreia Miranda
Nayara Fernandes
Sarha Hottes
“Temos como vocação garantir o reconhecimento e a
preservação dos patrimônios socioculturais das favelas, os verdadeiros
quilombos urbanos do Brasil. Lugares não apenas de sofrimento e de privações,
mas de memória coletiva digna de ser cuidada.”
O
Muquifu – Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos surgiu em 2012, em Belo
Horizonte, no Aglomerado Santa Lúcia. O Museu surgiu a partir do risco de
expulsão dos favelados dos centros urbanos, com o intuito de ser resistência e
meio transformador, além de querer reconhecer e preservar o patrimônio, das
histórias, das memórias e dos bens culturais dos moradores dos Quilombos
Urbanos e Favelas de Belo Horizonte. Em 2014, o Museu foi instalado na capela
da Vila Estrela.
O
museu tido como de território ressalta a importância e valor que as memórias
individuais e coletivas têm, é lugar de memória e representatividade, que reúne
como acervo, fotografias, objetos, imagens de festas, danças, tradições e
histórias que representam a vida cotidiana dos moradores, sendo que as pessoas
da comunidade são agentes contadores de histórias, uma vez que o acervo do
museu, em sua maioria, foi doado por eles próprios, sendo assim, são eles que
escolhem, a forma como serão representados, os objetos e a forma que serão
expostos para contar sua história.
O
museu, por meio de seus objetos, sujeitos, histórias e memórias, implica no
visitante uma ressonância muito forte. Segundo o autor José Reginaldo
Gonçalves, o objeto é dotado de ressonância pois possui valor simbólico e
afetivo, sendo assim capaz de evocar nas pessoas sentidos e significados. E, é
por meio dessa ressonância, que o visitante do museu passa por diversas
experiências e sentimentos, experiências essas pelas quais passamos ao visitar
o museu, em especial quando tivemos contato com a instalação denominada
“Domésticas, da escravidão à extinção” que reproduz um quartinho
de empregada, com móveis que transparecem extrema simplicidade e que
representam a realidade de muitas mulheres que para sustentar suas famílias
precisam deixar seus lares.
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Foto 1: Quartinho de Empregada. Fonte: Nayara Fernandes (2018) |
O
quartinho de empregada desperta uma série de sentimentos e sensações, principalmente nas pessoas que possuem um vínculo afetivo com essa
história, com essa realidade de lutas e anseios, seja pelo fato de se
reconhecer no espaço ou por ele nos evocar a lembrança de alguém.
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Foto 2: Quartinho de Empregada. Fonte: Nayara Fernandes (2018) |
Um
dos elementos mais relevantes encontrados na instalação são os depoimentos
deixados nas paredes do quarto, que trazem memórias, emociona quem os lê, pois
são relatos a uma realidade que na maioria das vezes é solitária e árdua, onde as pessoas que exercem essa
profissão, geralmente, abdicam do convívio com a própria família, da sua
cidade, para ganhar o sustento e ajudar os familiares.
O vínculo estabelecido com a exposição foi tão forte, que uma aluna do curso se emocionou
profundamente ao reconhecer a história de sua mãe naquele lugar. Já idosa, a
mãe da aluna que durante toda vida trabalhou como empregada doméstica para
sustento da família e ainda exerce a profissão para ajudar a mantê-la em outra
cidade para que ela possa fazer faculdade em uma instituição federal, e dessa
forma, realizar o sonho de ver a filha se formando.
“A vida inteira minha mãe trabalhou como doméstica
e hoje em dia estou na universidade graças aos sacrifícios que ela e meu pai
fizeram”
Visitar o Muquifu é uma experiência emocionante, pois os relatos, as histórias, os objetos e a museografia característica do museu constroem um
lugar de pertencimento e reconhecimento, através de uma narrativa que retrata a vida, as alegrias e as dificuldades enfrentadas pela comunidade, de forma a imortalizar seus moradores e valorizar a riqueza cultural pertencente ao local.
Referência
GONÇALVES, José Reginaldo; BITAR, Nina Pinheiro
& GUIMARÃES, Roberta Sampaio. 2013. A alma das coisas:
patrimônios, materialidade e ressonância. Rio de Janeiro:
Mauad: FAPERJ. 296 pp.
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