A presente visita técnica aos Museus da Loucura, em Barbacena (MG), e ao Museu Imperial, em Petrópolis (RJ), pela disciplina Museu no Mundo Contemporâneo ministrada pela professora Ana Cristina Audebert Ramos de Oliveira, configurando uma imersão prática nos desafios e transformações, foi uma experiência muito boa possibilitou os conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula. Esse espaço museológico nos permitiu compreender como as questões socias, políticas, culturais rompendo com padrões tradicionais e propondo novas formas de intepretação e interação com o público.
Museu da Loucura
O Museu da Loucura, localizado em Barbacena, Minas Gerais, ocupa um dos prédios históricos do antigo Hospital Colônia de Barbacena e um local conhecido por graves violações de
direitos humanos , e expõe um acervo de peças originais do sanatório, além de
traçar uma linha do tempo sobre a luta no
Brasil.
O Museu foi inaugurado em 16 de agosto de 1996,
marcando uma ruptura com o discurso institucional dominante e propondo uma
reinterpretação da memória. Segundo Mônica Quiroga (SAA/SE/MS), o museu busca
“resgatar a memória da Assistência Psiquiátrica em Minas Gerais”. Foi o
primeiro museu com esse tipo de temática no Brasil e tem como objetivo promover
reflexões sobre a loucura, com uma abordagem desmistificadora.
Museu da Loucura
Foi
a primeira vez que visitei o Museu foi uma experiência marcante e refletiva,
apesar do tema ser delicado, pois possibilitou compreender melhor uma parte
importante da história da saúde mental no Brasil e refletir sobre a forma como
muitas pessoas foram tratadas no passado.
Durante
muitos anos, milhares de pessoas foram internadas nesse hospital, muitas vezes
sem apresentar qualquer transtorno mental, pessoas pobres, negras, mulheres,
homossexuais e indivíduos considerados “indesejáveis” pela sociedade eram
enviados para lá, onde viviam em condições desumanas, estima-se que cerca de 60
mil pessoas tenham morrido no hospital em decorrência de maus-tratos, fome,
doenças e abandono.
Ao percorrer
o museu, é possível observar fotografias, objetos e documentos que revelam o
sofrimento vivido pelos internos, esses registros mostram como a loucura foi
usada como justificativa para excluir pessoas da convivência social,
negando-lhes dignidade, cuidado e direitos básicos. Essa realidade causa
impacto, mas também promove reflexão e consciência.
Além de
preservar a memória dessas pessoas, o Museu da Loucura cumpre um papel social
muito importante, ele contribui para o debate sobre saúde mental e reforça a
importância da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial, que defendem o
tratamento humanizado e o cuidado em liberdade. O museu mostra que a exclusão
não é tratamento e que o respeito deve estar no centro das políticas de saúde
mental.
Crânio
de paciente não identificado
Museu da Loucura
O Museu
Imperial, inaugurado em 1896 no artigo Palácio de São Cristóvão representa
um marco da monarquia brasileira que permaneceu por séculos como espaços
exclusivos da classe mais rica, popularmente conhecido como Palácio Imperial, é
um museu histórico temático localizado no centro histórico da cidade de
Petrópolis, no estado do Rio de janeiro, no Brasil, está instalado no antigo
Palácio de Verão do imperador brasileiro Dom Pedro II. O acervo do museu é
constituído por peças ligadas à monarquia
brasileira, incluindo mobiliário, documentos, obras
de arte e objetos pessoais de integrantes da família imperial.
Em 1822, Dom Pedro I viajou a Vila Rica (atual Ouro Preto), Minas Gerais, para buscar apoio ao movimento da Independência
do Brasil, encantou-se
com a Mata
Atlântica e o
clima ameno da região serrana. Hospedou-se na Fazenda do Padre Correia e chegou
a fazer uma oferta para comprá-la. Diante da recusa da proprietária, Dom Pedro
comprou a Fazenda do Córrego Seco, em 1830, por 20 contos de réis, pensando em transformá-la um dia no Palácio da Concórdia.
A crise política sucessória em Portugal e a insatisfação interna foram
determinantes para o seu regresso à terra natal, onde ele viria a morrer sem
voltar ao Brasil. A Fazenda do Córrego Seco foi deixada como herança para seu
filho, Dom
Pedro II, que
nela construiria sua residência favorita de verão. A mando de D. Pedro, foi construído o
belo prédio neoclássico, onde funciona atualmente o Museu
Imperial, teve início em 1845 e foi concluída em 1862. Para dar início à
construção, Pedro II assinou um decreto em 16 de março de 1843, criando Petrópolis. Uma grande leva de imigrantes europeus,
principalmente alemães, sob o comando do engenheiro e superintendente da Fazenda
Imperial, Major Julius
Friedrich Koeler, foi
incumbida de levantar a cidade, construir o palácio e colonizar a região.
O acervo do museu é constituído por peças
ligadas à monarquia
brasileira, incluindo mobiliário, documentos, obras de arte e objetos
pessoais de integrantes da família imperial. Na coleção de pinturas, destacam-se a "Fala do Trono", de autoria de Pedro Américo, representando Dom Pedro II na abertura
da Assembleia Geral, e o último retrato de dom Pedro I, pintado por Simplício Rodrigues de Sá.
Particularmente importantes são as joias
imperiais, com a coroa de Dom Pedro II, criada por Carlos Marin especialmente para a sagração e coroação do jovem imperador,
então com 15 anos de idade, e a coroa de dom Pedro I, além de diversas outras
peças raras e preciosas, como o cofre de bronze dourado e porcelana oferecido pelo rei de França Luís
Filipe I a seu
filho Francisco Fernando de Orléans, príncipe de Joinville, por ocasião de seu casamento com a
princesa dona
Francisca; o
colar de ouro, esmeraldas e rubis com insígnias do império que pertenceu à
imperatriz Dona Leopoldina,
e o colar de ametistas da Marquesa
de Santos, presente de
dom Pedro I. Também se destaca a Pena Dourada usada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888 para assinar a Lei Áurea, que pesa 13 gramas e foi adquirida
pelo Museu Imperial, em 2006, por R$ 500 mil; adquirida de Dom Pedro
Carlos de Orleans e Bragança, bisneto da princesa.
Durante o Império (1822-
1889)
e boa parte da República Inicial, o palácio servia de residência a corte imperial,
simbolizando o poder concentrado nas elites, na época, os direitos não eram
iguais enquanto a nobreza desfrutava de acesso privilegiado, a maioria da
população escravizada ou pobre, era excluída desses tesouros culturais. O museu, assim, perpetuava desigualdades sociais,
da ostentação aristocrática em um Brasil marcado por hierarquias rígidas. Apesar
desse passado elitista, o Museu Imperial ganhou importância estratégica na
contemporaneidade ao se transformar em um patrimônio público acessível.
Essa
transição do elitismo para a inclusão dialoga diretamente com as reflexões de
Marta Anico em seu artigo sobre a pós-modernização da cultura, patrimônio e
museus na contemporaneidade. No caso do Museu Imperial, essa
pós-modernização se manifesta na abertura para amostras temporárias sobre
escravidão e resistência popular, rompendo com o viés monárquico original.
Assim, o museu revela que na época havia desigualdades sociais, o patrimônio
cultural pode ser ressignificado para promover igualdade na sociedade atual, e
assim houve a necessidade de museus contemporâneos que contestem hierarquias e
ampliem o acesso ao saber.
“O
acelerar dos processos sociais e econômicos, associados a fenómenos como o
desenvolvimento dos meios de comunicação e de transporte de massas, juntamente
com o crescimento das cidades, o êxodo rural e os grandes fluxos populacionais
transnacionais, conduziu a um redimensionamento do mundo, em que espaço e tempo
deixam de se configurar como constrangimentos na organização das atividades
humanas, pelo que a globalização se encontra, assim, intimamente relacionada
com a intensificação e aceleração da compressão do espaço e do tempo na vida
económica, social e cultural.” Marta Anico
Traje Majestático de Dom Pedro II , Museu Imperial
Na
era da globalização tecnológica, em que as informações circulam em questão de
segundos e as fronteiras tornam-se cada vez mais flexíveis, os museus passam
por significativas transformações em seu papel na sociedade contemporânea.
Nesse contexto, essas instituições deixam de ser apenas espaços destinados à
guarda de objetos históricos e artísticos para se tornarem plataformas de
conexão entre culturas, histórias e pessoas de diferentes partes do mundo.
Essas
transformações não diminuem o valor dos museus físicos; ao contrário, ampliam
suas possibilidades de atuação. Os museus passam a funcionar como pontos de
encontro entre o local e o global, nos quais narrativas específicas ganham
alcance e ressonância universal. Por meio de ferramentas tecnológicas, como
realidade virtual, exposições digitais e aplicativos educativos, os visitantes
têm acesso a experiências mais interativas e imersivas, que enriquecem a
compreensão dos acervos e fortalecem o processo educativo.
“Museus e património
configuram-se, desse modo, como um legado da modernidade que procura uma nova
legitimação institucional no presente.” Segundo Marta Arnico. Atualmente os
museus transformaram em patrimônio sendo acessível ao público em geral, a
globalização tecnológica, portanto, não representa um desafio que ameaça a
existência dos museus, mas uma oportunidade de reinvenção e fortalecimento de
sua função social. Ao incorporarem novas tecnologias, os museus tornam-se mais
acessíveis, inclusivos e conectados com as demandas do mundo contemporâneo,
alcançando públicos diversos e estimulando o pensamento crítico.
Nesse
sentido, o Museu da Loucura e o Museu Imperial desempenham um papel fundamental
ao resgatar memórias, preservar a história e promover reflexões importantes
sobre a sociedade. Ambos demonstram como os museus continuam sendo espaços
essenciais para a construção da memória coletiva, o diálogo cultural e a
compreensão do passado, reafirmando sua relevância em um mundo cada vez mais
globalizado e tecnológico.
O quadro “Fala do Trono” de Pedro Américo mostra os trajes imperiais de Dom Pedro II Coroa de Dom Pedro II
Sala do piado da Imperatriz Teresa Cristina
Portanto essa
visita aos museus foi uma experiência boa com muito aprendizagem e contribuiu
para entender na prática a disciplina de Museu no Mundo Contemporâneo, e sobre
as inovações tecnológicas que vem facilitando o acesso para os visitantes que
buscam conhecimento do passado para o presente afim de preservar seu patrimônio
histórico e cultural.
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