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Foto: Fachada do Museu Mariano Procópio.
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Foto: Segundo pavimento do Memorial da República Presidente Itamar Franco.
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Ao longo dos debates nas aulas acerca dos textos lidos na disciplina, pude refletir sobre a função dos museus tanto no presente como no futuro, venho ao longo de minha trajetória acadêmica compreendendo que os museus não são instituições estáticas mas sim espaços em constante transformação, um lugar onde o tempo deve conversar de maneira dialética com a contemporaneidade, não se limitando a preservar o que já foi, mas a projetar o que pode vir a ser.
A memória não é algo linear nem estático: ela é feita de várias camadas, muitas vezes que se contradizem, e exige de nós, enquanto visitantes e futuros museólogos, um olhar atento e crítico para as diferentes narrativas que se apresentam, pois o museu e um espaço dinâmico de reinterpretação, onde a história, os objetos e as memórias podem e “devem” ser ressignificados(a).
A ideia de Museu surge com o fim dos gabinetes de curiosidades, espaços esses que eram voltados apenas ao colecionismo e a elite. Marta Anico (2005) em seu artigo “ A pós-modernidade da cultura: Património e museus na contemporaneidade" discute:
Se no passado os objectos que integravam as colecções museológicas eram seleccionados com base em critérios relacionados com a sua singularidade e autenticidade (Horne, 1984), ou ainda com a sua natureza rara e exótica (Impey; MacGregor, 1985), os princípios de classificação e organização taxonómicos, bem como as exposições baseadas em séries centradas nos objectos, com a consequente veiculação de uma imagem dos museus como templos e mausoléus de tesouros e conhecimentos, têm vindo a ser questionados, no âmbito do exercício crítico e auto-reflexivo em torno do estatuto do conhecimento, do poder e da representação cultural na contemporaneidade. (ANICO, 2005. p.79)
Na contemporaneidade, as instituições museológicas vem se transformando em espaços de questionamento e debate, onde as práticas educativas e de mediação desempenham um papel importantíssimo para a aproximação do público com o museu.
A primeira visita técnica foi realizada no dia 13/03/2025 no período da tarde, onde fomos ao Memorial da República Presidente Itamar Franco, instituição vinculada à Universidade Federal de Juiz de Fora, inaugurado em 2015 o prédio possui uma arquitetura moderna com a fachada em vidro, possuindo dois pavimentos. No primeiro pavimento há acervos mobiliários, expositores em madeira contendo medalhas, bandeiras do brasil, maquetes, o icônico fusca de Itamar Franco, uma linha do tempo em sua homenagem e mobiliários com gavetas interativas: onde fazem parte de uma ação educativa “gavetas da memória”, parte da expografia que achei fascinante no memorial.
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Foto: Mobiliário Interativo. |
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Foto: Linha do Tempo dedicada a Itamar Franco. |
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Foto: Fusca que pertenceu a Itamar Franco.
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No segundo pavimento o circuito expositivo se dividia em duas partes, a primeira denominada “Real Significado” com acervo numismática mostrando as fases da moeda brasileira, havia também mobiliários com gavetas interativas, o icônico relógio da joalheria do meridiano: este que se tornou testemunho da memória de juiz de fora. Na segunda parte do segundo pavimento havia uma exposição denominada “ Que democracia sem educação?” uma homenagem ao professor Murilo Hingel.
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Foto: Exposição "Que democracia sem educação?"
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Foto: Circuito expositivo segundo pavimento "Real Significado". |
Apesar de se tratar de um espaço dedicado à memória política, o trabalho da equipe é constante e busca engajar a população local com o memorial, estabelecendo vínculos por meio de ações educativas, a equipe realiza visitas mediadas com grupos escolares da cidade, o que ajuda a aproximar a população da instituição.
Após a visita ao circuito expositivo fomos para o arquivo, onde pude conhecer um pouco sobre a conservação dos acervos fotográficos e documentais da instituição: nesse espaço o que me chamou mais atenção foi o acondicionamento cuidadoso com as fotografias, todas protegidas por pastas de melinex e papel chambrian. Depois fomos para a biblioteca da instituição onde eram acondicionados os livros e fitas VHS de Itamar Franco: nesse espaço o que mais me impressionou foi o cuidado em confeccionar protetores para não precisar aderir a fita adesiva com a identificação ao livro.
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Foto: Setor de arquivo do memorial. |
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Foto: Acondicionamento de fotografias. |
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Foto: Acervo da biblioteca, acondicionamento de fitas VHS. |
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Foto: Etiqueta de identificação do livro. |
A visita foi significativa para mim pois tive a oportunidade de conhecer um pouco sobre o trabalho na instituição, que apesar de ter uma equipe pequena faz o que pode para dialogar com a publico através do acervo, pude compreender também a história de Juiz de fora: cidade que nunca tive a oportunidade de visitar, e de Itamar Franco, ex prefeito da cidade e figura central do memorial.
No dia 15/03/2025 fomos ao parque Mariano Procópio onde fica localizado o Museu Mariano Procópio e a Villa Ferreira Lage. O parque abriga diversas plantas, um lago, trilhas e jardins simétricos.
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Foto: Vista do lago. |
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Foto: Vista panorâmica do museu. |
Primeiramente fomos no Museu Mariano Procópio, edifício neoclássico inaugurado em 1922 com o objetivo específico de abrigar as coleções de Alfredo Lage. Onde fomos muito bem recebidos por toda a equipe do museu que se juntou para se apresentar à turma, depois seguimos para uma primeira sala do circuito expositivo “Rememorar o Brasil: A independência e a construção do estado nação” criada em comemoração ao bicentenário da independência brasileira.
Seguimos para o segundo andar onde tive a oportunidade de conhecer a exposição “ Fios de Memórias: A formação das coleções do Museu Mariano Procópio” que aborda os diferentes aspectos das práticas colecionistas e das coleções de Alfredo Ferreira Lage e do museu ao decorrer de sua trajetória, apresentando diversos aspectos da coleção, com o caráter eclético, a influência feminina e os vínculos com as memórias monárquicas. Seguimos ao circuito expositivo onde me encantei pela curadoria da sala “A coleção de Animais Taxidermizados do Museu Mariano Procópio” onde o acervo apresentava legendas explicativas de características simples, porém sucintas e de fácil compreensão sobre o acervo: características essas que mais me chamou atenção pois mesmo com a falta de recursos a equipe da instituição conseguiu conceber e realizar um ótimo trabalho com a proposta contemporânea ao acervo. Todas as salas em que visitei percebi que os textos e as legendas dialogavam com a contemporaneidade sempre tentando propor novos discursos ao acervo, criando um espaço acessível com público visitante.
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Foto: Coleção de conchas. |
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Foto: Patos Taxidermizados. |
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Foto: Pinguim taxidermizado. |
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Foto: Vista panorâmica do circuito expositivo. |
Depois da visita guiada ao museu, fomos ao edifício Villa Ferreira Lage, antiga residência de veraneio da família Lage, construída em 1861, para receber o imperador em suas vindas a Juiz de Fora. O edifício possui arquitetura neoclássica, onde atualmente é um “museu casa”, edifício esse que foi restaurado e que passou a abrigar acervos de mobiliário, de modo a criar uma cenografia como se ainda morassem pessoas na casa. Havia também um segundo pavimento no “porão” com mobiliários que remetem a uma cozinha e várias salas, algumas delas contam sobre o processo de restauro da villa.
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Foto: Janela de Prospecção, onde e possível observar a camada pictórica original.
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Foto: Sala do "museu casa". |
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Foto: Sala de Musica feita com mobiliário Francês e com acústica personalizada.
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Foto: Antiga cozinha da casa. |
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Foto: Corredor que liga as salas próximas a cozinha.
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Após a pausa para o almoço, seguimos para os setores de reserva técnica onde fomos muito bem recebidos, conhecemos um pouco sobre a conservação do acervo realizada na instituição: em destaque para o acondicionamento do manto histórico, muito bem acondicionado com materiais de referência no o campo da conservação, tive a oportunidade de conhecer também as fichas de documentação do acervo, todas muito bem estruturadas, entramos na reserva onde conheci um pouco do acondicionamento e higienização dos animais taxidermizado. Seguimos para a reserva técnica de acervos fotográficos, onde achei excepcional o acondicionamento dos diapositivos e dos daguerreótipos, em embalagens confeccionadas com tecido francônia e papel cartão alcalino, material de excelência no campo: me encantei pelo cuidado da cor do tecido das embalagens ser padronizada com as cores do museu.
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Foto: Acondicionamento de indumentaria.
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Foto: Acondicionamento de medalhas.
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Foto: Acondicionamento de daguerreótipos e diapositivos. |
Seguimos para a hemeroteca e biblioteca do museu onde são realizados trabalhos de salvaguarda e pesquisa do acervo, conhecemos um pouco sobre o acervo e sobre sua história: a parte que mais gostei foi poder conhecer e aprender sobre a história da Viscondessa de Cavalcanti, por uma mediação incrível feita pela equipe.
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Foto: Detalhe de uma gravura de Missal. |
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Foto: Acervo da biblioteca do museu, livro com capa em detalhes em marfim e missal em encadernação francesa.
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A visita às duas instituições foi uma experiência extremamente enriquecedora, pois me permitiu compreender de maneira mais clara como os museus e as instituições culturais podem e devem reformular suas narrativas em vista dos atuais diálogos na contemporaneidade. Agradeço imensamente às equipes das duas instituições, que nos receberam com tanto carinho e dedicação, e à professora Ana por nos proporcionar vivências únicas e inesquecíveis.
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Foto: Turma de Museologia da UFOP e equipe do museu Mariano Procópio.
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Foto: Turma de museologia da UFOP e equipe do Memorial da República Presidente Itamar Franco.
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