As coisas não são ultrapassadas tão facilmente, são transformadas.
-Nise da Silveira
Escrevo isso como uma triste e pesada documentação dos dias atuais, para que no futuro alguém possa entender o nosso agora. Hoje o tempo passa rápido e devagar na mesma medida, temos uma eternidade e ao mesmo tempo uma pressa incessante em terminar tudo. Apreciamos a tudo com voracidade e ansiedade, nossa arte é descartável como uma garrafa PET, nossas memórias se esvaem com tanta rapidez, que já passamos há tempos da liquidez moderna e nos tornamos etéreos, mais leves que o ar.
Não somos mais indivíduos, somos uma massa que ocupa um lugar no mundo, a fim de produzir e consumir. Como ousaria dizer o antropólogo García Canclini, o consumo se tornou um pré requisito à cidadania, não somos mais cidadãos, somos meros consumidores, nem mesmo nossa memória escapa disso. Nossos museus deixaram de ser apenas um lugar para contemplação aos finais de semana, como era no século passado, nossos museus são capitalizados, pois esta é a ordem e a lei da nossa era, não queremos estar em um museu no interior de Rondônia vendo uma entediante e monótona exposição sobre a formação de um território tão remoto e insignificante em um termo global, mesmo que boa parte de nossa identidade e história esteja presente em cada parte de seu acervo, mesmo no mais minúsculo fragmento de cerâmica que tem mais anos de existência que a revolução industrial, mas com certeza nós estaríamos prontamente dispostos a enfrentar uma fila de 30 minutos, para vermos uma grande exposição financiada pelo capital privado, como a famosa Dreamworks: A exposição, porque é o que nos faz consumir, nos faz ver filmes, ter brinquedos, ficar horas e horas petrificado em frente a uma gigante tela colorida, é o que nos proporciona likes no instagram, comentários no facebook e menções no twitter, porque é um bem de consumo.
E qual o problema em consumir cultura moderna? Eu ousaria dizer que há uma linha muito tênue em como atrair público aos museus com exposições “blockbusters” e repelir o público quando se trata de uma exposição sobre o interior de Rondônia, uma eterna corda bamba, já que não há um valor de mercado expressivo, não temos canecas, ovos de páscoas, nem brinquedos sendo vendidos em uma escala global desse isolado museus, porque nossa identidade se difundiu, em uma grande hegemonia cultural onde não temos tempo para pensar só para tirar uma foto e deixar ali guardada para sempre em uma plataforma invisível, o museu do agora é uma instituição minúscula no interior do país que luta quase sem forças contra uma enorme cadeia de produção, não é sobre apreciar é sobre consumir, sobre ter capital que o leve até o Louvre, pois é uma comprovação da sua cidadania moderna, como um mero consumidor.
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