a tradição das visitas técnicas

No inverno de julho de 1945, quando as moças e senhoras costumavam usar chapéus em roupas de passeio e os homens trajavam ternos à rua, a turma do Curso de Museus do Museu Histórico Nacional/RJ excursionava para a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais. O grupo de 19 pessoas veio de trem numa viagem que durou 16 horas. Durante a permanência de uma semana visitaram também as cidades de Mariana, Congonhas do Campo e o então arraial de Ouro Branco.

Passados 68 anos, o Curso de Museologia da UFOP mantém a tradição das visitas técnicas iniciada pelo Curso de Museus. Todo semestre o DEMUL se reúne para discutir e aprovar os roteiros de viagens das disciplinas que possuem visitas previstas em suas ementas. Em geral, os estudantes organizam a hospedagem, na busca de conforto, higiene, bom preço e localização. Os professores, claro, responsabilizam-se pela elaboração dos roteiros detalhados, agendamentos, relatórios posteriores, avaliações e ainda por todo o aspecto operacional de deslocamento.

Em meio à transitoriedade do mundo contemporâneo as visitas técnicas permanecem uma boa tradição que nos orgulhamos em manter devido à sua importância como recurso pedagógico.

Este blog cumpre, pois o objetivo final de avaliar os estudantes em suas visitas aos museus. Suas postagens são registros, narrativas e leituras da experiência vivida, um diário coletivo, dinâmico, crítico, quiçá, divertido.

Tenham todos uma boa leitura e uma boa viagem!

Prof.ª Ana Audebert


terça-feira, 17 de agosto de 2021

O Museu do Agora

As coisas não são ultrapassadas tão facilmente, são transformadas.

-Nise da Silveira

O museu Nacional em Chamas. Daniela Klebis – Jornal da Ciência. Disponível em:<http://www.fnpetroleiros.org.br/noticias/4976/perda-inestimavel-entidades-cientificas-lamentam-incendio-no-museu-nacional> Acesso em 17 de ago. 2021.

 Escrevo isso como uma triste e pesada documentação dos dias atuais, para que no futuro alguém possa entender o nosso agora. Hoje o tempo passa rápido e devagar na mesma medida,  temos uma eternidade e ao mesmo tempo uma pressa incessante em terminar tudo. Apreciamos a tudo com voracidade e ansiedade, nossa arte é descartável como uma garrafa PET, nossas memórias se esvaem com tanta rapidez, que já passamos há tempos da liquidez moderna e nos tornamos etéreos, mais leves que o ar.

Não somos mais indivíduos, somos uma massa que ocupa um lugar no mundo, a fim de produzir e consumir. Como ousaria dizer o antropólogo García Canclini, o consumo se tornou um pré requisito à cidadania, não somos mais cidadãos, somos meros consumidores, nem mesmo nossa memória escapa disso. Nossos museus deixaram de ser apenas um lugar para contemplação aos finais de semana, como era no século passado, nossos museus são capitalizados, pois esta é a ordem e a lei da nossa era, não queremos estar em um museu no interior de Rondônia vendo uma entediante e monótona exposição sobre a formação de um território tão remoto e insignificante em um termo global, mesmo que boa parte de nossa identidade e história esteja presente em cada parte de seu acervo, mesmo no mais minúsculo fragmento de cerâmica que tem mais anos de existência que a revolução industrial, mas com certeza nós estaríamos prontamente dispostos a enfrentar uma fila de 30 minutos, para vermos uma grande exposição financiada pelo capital privado, como a famosa Dreamworks: A exposição, porque é o que nos faz consumir, nos faz ver filmes, ter brinquedos, ficar horas e horas petrificado em frente a uma gigante tela colorida, é o que nos proporciona likes no instagram, comentários no facebook e menções no twitter, porque é um bem de consumo.

E qual o problema em consumir cultura moderna? Eu ousaria dizer que há uma linha muito tênue em como atrair público aos museus com exposições “blockbusters” e repelir o público quando se trata de uma exposição sobre o interior de Rondônia, uma eterna corda bamba, já que não há um valor de mercado expressivo, não temos canecas, ovos de páscoas, nem brinquedos sendo vendidos em uma escala global desse isolado museus, porque nossa identidade se difundiu, em uma grande hegemonia cultural onde não temos tempo para pensar só para tirar uma foto e deixar ali guardada para sempre em uma plataforma invisível, o museu do agora é uma instituição minúscula no interior do país que luta quase sem forças contra uma enorme cadeia de produção, não é sobre apreciar é sobre consumir, sobre ter capital que o leve até o Louvre, pois é uma comprovação da sua cidadania moderna, como um mero consumidor.



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